Não é de hoje que a área de saúde no Brasil dá provas de saturação. Os alertas, reclamações e denúncias por parte da população sobre a rede estadual de saúde do Rio de Janeiro mostram um dos exemplos mais bem acabados de como a ineficiência e as falhas de gestão podem repercutir perversamente na qualidade de vida dos usuários do sistema público, que sofrem pelo descaso e total falta de atendimento. Hoje, não conseguimos nem sequer proporcionar atendimento básico para os 150 milhões de brasileiros que dependem do SUS.

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Lamentavelmente, a saúde não é – e não tem sido nas últimas décadas – prioridade para os nossos governantes. O desinteresse é tão grande que, nas últimas eleições presidenciais, poucos candidatos tinham alguma proposta minimamente consistente para a melhoria do setor. Pior ainda: mostraram interesse muito reduzido pelo estudo realizado e entregue pessoalmente por representantes dos hospitais privados, de forma espontânea, contendo propostas viáveis para a sustentabilidade do sistema brasileiro de saúde.

A precariedade das condições de saúde no Rio de Janeiro expõe uma realidade que se repete em todo o território nacional

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Diferentemente de outros setores da economia, a saúde é fragmentada, e falta diálogo e vontade dos atores envolvidos para mudar este cenário. Um dos nossos maiores desafios é buscar a integração entre o público e o privado, de forma a fortalecer o SUS. A convergência dos encaminhamentos feitos por essas duas esferas, no preparo de suas políticas e estratégias, é fundamental neste processo. E os objetivos mandatórios devem prever a sustentação econômica do sistema, a melhora do atendimento ao beneficiário do SUS e da saúde privada, assim como a garantia da acessibilidade e a satisfação do usuário.

A precariedade das condições de saúde no Rio de Janeiro, justamente no ano em que está no foco do mundo, em razão dos Jogos Olímpicos, expõe uma realidade que se repete em todo o território nacional, especialmente nas regiões menos privilegiadas. Hoje, já se fala em reduzir e até acabar com alguns programas sociais voltados para a saúde, como a Farmácia Popular.

A limitação de recursos é um fato inegável, agravada pela maior crise econômica dos últimos anos e pela redução dos investimentos. Mas pior que a falta de recursos é o mau uso do dinheiro público – que nada mais é do que dinheiro de toda a sociedade. Deveria ser do conhecimento das autoridades governamentais um estudo da Organização Mundial da Saúde (OMS) que aponta uma perda de 20% a 40% das verbas destinadas à saúde em decorrência de desperdício, ineficiência, erros médicos e operacionais, procedimentos e equipamentos inadequados, falta de treinamento dos profissionais e a má gestão administrativa, além – é claro – da corrupção denunciada diariamente pela imprensa.

A recuperação dessa perda já seria suficiente para tirar parte dos hospitais públicos do fundo do poço. Mas não é tudo. O estrago que os nossos governantes estão fazendo com a saúde pública começa a ameaçar também o setor privado por causa do cenário econômico, que se reflete na elevação dos custos dos hospitais privados e inviabiliza os novos investimentos. Hoje, ainda somos dependentes da importação em quase 30% dos nossos medicamentos e insumos. Como resultado, os hospitais privados apresentaram em 2015 – pela primeira vez nos últimos dez anos – uma queda em sua receita líquida. O que não deixa de ser preocupante para os empresários e também para os usuários, diante do caos da saúde pública.

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A situação é agravada pelos 450 mil cidadãos que perderam seus planos de saúde no último ano, por causa do aumento do desemprego. Além de reduzir ainda mais a receita no setor privado, é certo que esses ex-beneficiários contribuirão para inchar ainda mais a já combalida estrutura de atendimento do SUS, em um momento bastante crítico.

O retrato que a saúde nos mostra do Brasil é muito ruim – e, se nada for feito, pode piorar.

Francisco Balestrin é presidente do Conselho da Associação Nacional de Hospitais Privados (Anahp), presidente eleito da Associação Mundial de Hospitais (IHF) e vice-presidente executivo e diretor médico corporativo do Grupo VITA.