Os limites físicos do planeta e a explosão populacional (9,4 bilhões de habitantes em 2050) vão encurralar a humanidade e obrigar-nos todos a um confronto com a questão do consumo (necessário) e o consumismo (exagerado) de bens e serviços. Já se disse que a humanidade vive um período de alienação e está virando as costas para problemas gravíssimos que podem comprometer a própria existência na Terra.
A questão é que, para viver e sobreviver, o ser humano precisa consumir. Sem alimentos, vestuário, abrigo e medicamentos, o corpo não sobrevive e o homem morre. Viver é consumir. Mas, para isso, é preciso produzir e, para fazê-lo, o homem agrega outros tipos de consumo. Quem vai para o trabalho necessita de meios de transporte, educação, treinamento e bens materiais (como ferramentas, equipamentos, móveis), coisas necessárias ao processo produtivo.
Então, há o consumo final feito pelo homem e o consumo intermediário para produzir os bens finais de consumo. O primeiro postulado econômico é: quanto de bens e serviços o homem precisa para viver, sobreviver e ser feliz? Não há resposta exata. Mas é possível resposta intuitiva. O segundo postulado é: quanto de bens e serviços a humanidade está consumindo (às vezes apenas comprando, sem nem sequer consumi-los) e de que não precisa para viver?
Se fosse possível mensurar com exatidão a diferença entre o necessário (primeiro postulado) e o excesso (segundo postulado), teríamos aí a medida da contribuição do homem de hoje para a destruição de recursos finitos do planeta, que vai encurralar a humanidade muito brevemente. Existe uma alienação individual e coletiva em relação ao consumo excessivo. Mas por que o ser humano compra tanto mais do que precisa para viver bem?
A psicologia é a ciência que explica os processos mentais e o comportamento humano. Mas até 200 anos atrás, a psicologia não existia como uma ciência autônoma; era uma parte da filosofia, razão por que os grandes filósofos trataram dela, todos eles. Isso nos remete a um filósofo tão estranho quanto genial, um intelectual que tinha aversão ao convívio com o semelhante, mas compreendeu e interpretou como poucos o comportamento humano. Arthur Schopenhauer (1788-1860) deu as melhores explicações sobre o consumo desvairado do homem.
Enquanto Kant (1724-1804) dizia que a central de comando no cérebro é a inteligência e a razão, Schopenhauer afirmava que a central de comando é a vontade. É ela que leva o homem a desejar, consumir, saciar, desejar de novo... e assim indefinidamente. A vontade não cessa de nos dirigir, pois, assim que um desejo é saciado, há outro e mais outro... Para Schopenhauer, o querer nos escraviza, para o que ele apresentou sua proposta de libertação da vontade.
O filósofo observou que a própria felicidade depende da superação da vontade, e escreveu: "Em que consiste o sofrimento? É a luta para vencer o obstáculo que fica entre a vontade e a meta. O que é felicidade? É atingir a meta". Assim, ele estabeleceu para si próprio como meta de vida desejar o menos possível, saber o mais possível. No fundo, é a conhecida proposta de buscar a felicidade no ser e não no ter.
Schopenhauer propõe que usemos a razão para superar a vontade, mas alerta que a tarefa não é fácil, pois a vontade é biológica (somos escravos em nossa própria morada, disse ele) e a razão é construída. O ser humano trava uma batalha interior diária entre a razão e a vontade. Voltarei ao tema em outro artigo.
José Pio Martins, economista, é reitor da Universidade Positivo.
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