Ouça este conteúdo
A civilização ocidental tem a vida, a liberdade, o bem comum e a paz social como bases a serem defendidas; verdadeiros valores inegociáveis em um Estado Democrático de Direito. Nessa direção, parcela significativa do povo brasileiro é conservadora, pois quer as pessoas seguras e protegidas, longe dos flagelos das drogas, do crime organizado e das atividades ilícitas; pois uma sociedade só será verdadeiramente livre se puder usufruir desses direitos, que não lhes foram dados pelo homem e sim por Deus.
Ao longo de 2023, no campo da segurança pública, o governo de turno ainda não mostrou a que veio. Admiradores que são de Rousseau e crentes na figura do “bom selvagem”, cultuam a bandidolatria e idealizam o criminoso como vítima da sociedade, talvez como manto para esconder a própria incompetência para gerir o assunto. Especialistas de verdade sabem que a gestão da segurança pública não é assunto para neófitos, amadores e jamais deveria servir de palanque político.
Não é só dinheiro que a segurança pública precisa e não é razoável que um governo brinque com vidas e mortes.
No poder, a esquerda julga-nos ineptos e após ser muito cobrada face aos recentes acontecimentos na Bahia, em São Paulo e no Rio de Janeiro, para dar alguma satisfação, surge com o Programa Nacional de Enfrentamento às Organizações Criminosas (ENFOC), verdadeira “aspirina vencida” para curar um câncer terminal.
Em relação ao mencionado plano, de maneira hipócrita, dizem que já mapearam e identificaram quase 1000 marginais, os quais serão presos, de maneira cirúrgica e inteligente, evitando confrontos, com o uso de drones e inteligência artificial para reconhecimento facial. Ora, para quem conhece um pouco das comunidades dominadas pelos narcoterroristas sabe que nenhum drone, nenhuma ferramenta de inteligência artificial vai colocar as algemas nos marginais. Eles vão combater a polícia sim, com armas de guerra, e será necessário pisar no terreno para buscar neutralizá-los.
Não é só dinheiro que a segurança pública precisa e não é razoável que um governo brinque com vidas e mortes. Os agentes da lei, tradicionalmente pouco valorizados, morrem todos os dias para defender as pessoas de bem, protagonizando uma estatística cruel. O que o governo deve fazer é valorizar e confiar nas polícias, empregando-as com segurança, após criterioso trabalho de inteligência, de maneira judiciosa, conforme suas capacidades e áreas jurisdicionais previstas em lei.
Lembro que a sociedade deve estar preparada para ver mortes no noticiário, pois precisamos despertar para a realidade nua e crua de que em algumas regiões do país vivemos um verdadeiro cenário de guerrilha urbana, que só será combatida com planejamento criterioso, ações cinéticas em força e a retomada desses espaços pela mão do Estado. Infelizmente, como em todas as guerras, danos colaterais podem acontecer.
Por derradeiro, lembremos da tragédia do México, onde a inação permitiu que a criminalidade organizada entrasse no Estado e, pela corrupção, corroesse as instituições. É chegada a hora de a sociedade brasileira cobrar ações efetivas do governo; precisamos valorizar os profissionais de segurança pública e perceber, que, sem sacrifícios, rumaremos de forma inexorável para um panorama perigoso e sem volta.
Paulo Ubirajara Mendes, coronel da Reserva, é formado pela Academia Militar das Agulhas Negras. Comandou o 2º Regimento de Cavalaria de Guarda, unidade que atuou na Intervenção Federal para a Segurança Pública no Rio de Janeiro, e foi assessor militar na vice-presidência da República de 2019 a 2022.
Conteúdo editado por: Jocelaine Santos