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Opinião do dia 2

Sem investimento, não teremos um feliz 2012

Falar em crescimento de 4% em 2011 já não parece tão ambicioso. Olhando para 2012 com os olhos de hoje, o quadro que surge não é animador

Pode parecer estranho, mas se o PIB brasileiro crescer 7,6% em 2010, como esperado, o crescimento de 2011 será, no pior cenário, de 2%. É o famoso "efeito carregamento". Isso ocorre porque, ao contrário do que se imagina, o crescimento anual do PIB não mede o que se passa na economia entre janeiro e dezembro. Essa taxa resulta da comparação entre a média de um ano e a média do ano anterior. Mas, como chegaremos a dezembro acima da média de 2010, mesmo que o PIB fique estagnado a partir daí até dezembro de 2011, a média do ano que vem será superior a deste ano em cerca de 2%. E essa seria a taxa de crescimento do PIB. Dito isso, falar em crescimento de 4% em 2011 já não parece tão ambicioso. O desafio está mais adiante. Olhando para 2012 com os olhos de hoje, o quadro que surge não é animador.

As vendas no varejo já são 15% superiores ao nível anterior à quebra do Lehmann Brothers. Mas a produção de bens de capital está andando de lado desde março e ainda é 5% menor do que em setembro de 2008. Não é uma obra do acaso. Estamos vivendo um viés anti-investimento que afeta, sobretudo, os produtores de bens intermediários como autopeças e revestimentos cerâmicos. Removê-lo será um dos maiores desafios para o governo Dilma. E como se formou esse viés?

O rápido aquecimento do mercado de trabalho tem elevado o emprego e permitido aos sindicatos obter reajustes salariais acima da inflação. Emprego e renda em elevação estimulam o consumo e pressionam os preços. Isso obriga o Banco Central a elevar os juros para conter a demanda. Mas juros altos atraem capital estrangeiro, aumentando a oferta de dólares e derrubando a taxa de câmbio. Com dólar baixo, as importações se tornam mais baratas, contendo a alta de preços e mascarando o desequilíbrio entre oferta e demanda.

O lado fraco desse quadro é sua lógica estritamente focada na demanda. Seus resultados não se sustentam no longo prazo. O investimento é desestimulado por uma razão simples: a queda na rentabilidade. Muitas empresas se vêem hoje diante de custos salariais crescentes, crédito mais caro e lucratividade em baixa por conta da penetração crescente das importações. Será que um empresário qualquer estaria estimulado a investir nesse cenário? Certamente, não. Não há investimento privado que se justifique sem a expectativa de lucro.

Uma das tarefas da gestão Dilma será remover o viés anti-investimento sem abrir mão da receita de estabilidade em vigor desde 1999: câmbio flutuante, equilíbrio fiscal e controle inflacionário. Afinal, tão artificial quanto manipular o câmbio seria manter o padrão atual de política econômica. Só assim teremos um feliz 2012.

Robson Gonçalves é professor dos MBAs do ISAE/FGV e consultor da FGV Projetos

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