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Artigo

Sem liberdade não há humanidade

Foto do escritor George Orwell. (Foto: Wikimedia Commons)

Sim. Ofereço a ele estes ensaios. Hoje, faltam homens como ele: homens que não têm medo. Assim como ele, não acredito num mundo melhor e direi isso de várias formas diferentes até morrer. Nos últimos séculos, acreditar num mundo melhor se transformou na pior prisão para o pensamento e para a alma. No limite, uma falha de caráter. (Contra Um Mundo Melhor – Luiz Felipe Pondé)

Penso, logo existo. A frase celebre de René Descartes, filósofo, físico e matemático francês, nunca me pareceu tão incompleta. Não basta pensar para eu ter ciência que minha existência é um fato inegável; minha existência necessita que a leitura que faço da realidade que observo seja ouvida, lida e criticada, mas nunca criminalizada. Ter entendimento de mim mesmo não basta se não posso expressar isso ao outro. No fim a imortalidade do homem está na sua obra, legado intelectual e artístico, o que torna o cerceamento do direito à liberdade de expressão um ato inquisitorial.

O artigo 19 da Declaração Universal dos Direitos Humanos expressa que: "Todo ser humano tem direito à liberdade de opinião e expressão; este direito inclui a liberdade de, sem interferência, ter opiniões e de procurar, receber e transmitir informações e ideias por quaisquer meios e independentemente de fronteiras." (grifo meu)

O Estado é laico já que nenhuma religião norteia o proceder dos três poderes

Um ataque à liberdade é um ataque à própria humanidade que um individuo carrega dentro de si. Ser humano é ser irremediavelmente livre, pois como disse o filósofo Jean-Paul Sartre: “O homem está condenado a ser livre...”. A liberdade está ameaçada, pois ela se tornou, primeiramente, refém da ideologia e, agora, da sede de poder daqueles que deveriam ser seus legítimos guardiões.

Quando a ideologia marxista se fortaleceu no Brasil, ela buscou, não diferentemente de tantas outras ideologias, restringir a complexidade da realidade a um entendimento simplista, excludente e totalitário. Começou a verdadeira "ditabranda" ou o politicamente correto, que busca nortear a linguagem segundo a ideologia marxista. Como o filósofo Pondé diz: "A praga do PC ( politicamente correto) é uma mistura de covardia, informação falsa e preocupação com a imagem. Combina com uma época frouxa como a nossa."

Termos como lugar de fala , mansplaining , apropriação cultural etc. são modos de anular o direito de expressão do outro que traz o diferente e contraditório a mesa; os movimentos que advogam tais termos desejam a empatia (embora quando falam de empatia o que buscam, de fato, é exigir a simpatia do outro) de parcela da sociedade que julgam como opressora e privilegiada, ao mesmo tempo que cerceiam a voz desta. Irônico? Sim, principalmente quando a retorica é carregada da cultura do vitimismo. Como diria Dr. Norman Doidge, psiquiatra e escritor do prefácio do livro Doze regras para a vida de Jordan Peterson: "As ideologias substituem o conhecimento verdadeiro, e os ideólogos são sempre perigosos quando ganham poder, pois um comportamento simplista e sabe-tudo não é páreo para a complexidade da existência. Além disso, quando suas engenhocas sociais não funcionam, os ideólogos não culpam a si mesmos, mas a todos que desmascaram suas simplificações."

Temos a cultura, em grande parte, cativa a uma ideologia marxista que acolheu uma forma de arte que nega a estética para privilegiar uma mensagem panfletária e excludente, colocou no ostracismo grandes escritores brasileiros lidos por gerações, ajudou a quase apagar a memória nacional, vilipendiou a religião católica e protestante, e agora rotula o outro lado daquilo que eles são, de fato, os principais responsáveis: totalitarismo, perseguição ideológica e alienação intelectual.

Por fim, vivemos semanas onde o humorista Danilo Gentili é censurado, jornais de cunho independente perseguidos por exercerem aquilo que pede a profissão e agora parte da imprensa coloca a ministra Damares Alves como figura anacrônica, pois expõe a público sua crença religiosa no que seria um claro “atentado à ideia de Estado laico” que, segundo estes, “a existência da chamada bancada evangélica já põe em risco”. O Estado é laico já que nenhuma religião norteia o proceder dos três poderes, mantendo o Estado uma posição de não apoiar ou descriminar nenhum cidadão por sua crença mesmo sendo este cidadão uma figura política; alguns querem, na verdade, que a religião de matriz judaico-cristã seja algo sem expressão na sociedade brasileira e seus seguidores, proibidos de exercerem sua fé livremente, mesmo sendo, na sua maioria, como a ministra Damares Alves, cientes da real definição de Estado laico e praticantes deste.

O Brasil segue um caminho que me faz lembrar o dito por George Orwell: “Se você quer uma imagem do futuro, imagine uma bota prensando um rosto humano para sempre.”

Carlos Alberto Chaves Pessoa Júnior é formado em Letras, é professor de inglês e espanhol e consultor bilíngue.

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