Os eleitores que não são a favor do governo atual e de suas políticas ganharam a alcunha de “coxinhas”, mas de forma pejorativa para mencionar as pessoas que são burguesas, com pouco conteúdo e conservadoras.

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No entanto, concordar com os vários erros de política econômica e com os grandes escândalos de corrupção não me parece ser a melhor alternativa. As pessoas que utilizam o termo “coxinha” para atacar os seus opositores dizem que as políticas sociais são muito importantes, ainda mais em um país tão desigual quanto o Brasil, e que os “coxinhas” são contra a ascensão econômica e social das camadas menos favorecidas. Adicionalmente, bradam que a corrupção existe em qualquer país e em qualquer momento da história.

É triste pensar que o futuro econômico e social seja determinado, em grande medida, pela família em que se nasce

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Em relação ao primeiro ponto, apesar de discordar das políticas econômicas e de algumas políticas sociais adotadas pelo atual governo e pelo seu antecessor, como a política de elevação do salário mínimo, acho muito importante a adoção de medidas que ajam no sentido de maior igualdade, mas de oportunidades e não necessariamente de renda.

É triste pensar que o futuro econômico e social seja determinado, em grande medida, pela família em que se nasce. No Brasil, são raros os casos de filhos de famílias pobres que conseguem ter sucesso profissional e financeiro durante a vida adulta, sobretudo das crianças que nascem em favelas e em famílias desestruturadas. O país precisa focar em políticas que minimizem a sorte da criança pelo seu local de nascimento, sendo que um sistema educacional de nível básico que seja público e de qualidade é fundamental nesse sentido. Nesse ponto, é preciso analisar quais as políticas voltadas para a melhora de qualidade que deram certo em outros países em vez de achar que mais recursos para a educação é o remédio.

Também é preciso focar na melhora da qualidade das creches e da pré-escola pública, pois essas crianças se encontram em uma idade em que o cuidado e o aprendizado lúdico são fundamentais no desenvolvimento emocional e cognitivo. Adicionalmente, é preciso fornecer maior suporte e assistência para as famílias que são extremamente pobres e na saúde de suas crianças. Essa é a forma de tentar quebrar o ciclo de pobreza em que muitas famílias se encontram no Brasil. Finalmente, essas políticas econômicas e sociais são capazes de elevar a renda das famílias menos favorecidas.

Em relação ao segundo ponto, de fato corrupção existe em praticamente todos os países e em diferentes momentos de suas histórias, mas não precisamos usar isso como justificativa para o que vem ocorrendo com o país, e sim para fortalecer o Poder Judiciário e punir os corruptos e corruptores de forma dura para que o nível de corrupção se reduza ao longo do tempo com ganhos para toda a sociedade brasileira. Ser conivente com uma situação também nos torna cúmplices da mesma.

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Na verdade, ser coxinha me parece um termo mais apropriado para uma pessoa contrária às políticas econômicas adotadas nos últimos dez anos e que é dura com os atos de corrupção e com o favorecimento dos companheiros que aparelharam de forma excessiva a máquina pública, independentemente do partido político. Nesse caso, tenho orgulho de ser coxinha!

Luciano Nakabashi, doutor em Economia, é professor da FEA-RP/USP e pesquisador do Ceper/Fundace.