Ser grato em meio ao caos das grandes incertezas

Vivemos uma época de grandes incertezas. Todos os dias, ouvimos ou lemos notícias que nos deixam alarmados, assustados, perturbados. Alguns exemplos: o ambiente político agressivo, ofensivo e polarizado, expressando uma radicalização que não contribui em nada para a paz social; as profundas incertezas na economia - tem-se a impressão de que estamos à beira de uma catástrofe econômica sem precedentes; os efeitos climáticos extremos, que são cada vez mais frequentes no mundo todo, com o aquecimento global, que já é uma realidade, ainda que seja negado por muitas autoridades governamentais, nacionais e/ou internacionais.

A lista de más notícias não tem fim: epidemias, (in)segurança pública interna, guerras acontecendo por todos os lados. E, para completar, grande parte da população, na qual me incluo, não sabe lidar com a velocidade das transformações tecnológicas, que, por sua vez, geram outro fator de insegurança: golpes eletrônicos que não acabam mais. Parece que o mundo está realmente virando um lugar difícil de se viver, com a humanidade caminhando para sua autoextinção.

Ser grato e agradecer, de coração, fará muito bem para seu corpo, sua mente e seu espírito. Esta prática não é uma novidade e não é exclusiva de nenhuma religião, filosofia de vida ou cultura específica

Dentro deste caos, eu ouso lançar uma proposta: desenvolva a prática da gratidão. Faça o exercício diário de agradecer por todas as coisas e situações que acontecem na sua vida. Mudanças de comportamento em uma sociedade demoram para acontecer, mas, pelo menos, você se sentirá mais feliz, tornando seu dia a dia mais agradável, prazeroso e leve.

Acredite! Ser grato e agradecer, de coração, fará muito bem para seu corpo, sua mente e seu espírito. Esta prática não é uma novidade e não é exclusiva de nenhuma religião, filosofia de vida ou cultura específica. Décadas atrás, era muito comum ver uma família sentada à mesa, antes da refeição, fazer uma oração e dar graças pelo alimento que iriam receber. Se for um alimento vegetal, você já se deu conta de quantas pessoas trabalharam para que esse alimento chegasse íntegro até a sua mesa? Desde a plantação de uma semente, árvore frutífera, leguminosas; depois, todo o cuidado até a colheita, manuseio, empacotamento, transporte, armazenagem, inspeção de qualidade e venda. Todos os dias, devemos agradecer o trabalho de milhares de pessoas envolvidas e dedicadas para que o nosso alimento esteja disponível.

Igualmente, devemos ver, em tudo o que nos acontece, o lado bom e ser grato por isso. Imagino o que você pode estar pensando: como assim? Devo agradecer por todas as desgraças que me acontecem? Caí na rua, perdi meu celular, cheguei atrasado no trabalho, bati o carro, fui assaltado... e devo agradecer? Sim, por mais idiota que isso possa parecer. Tudo aquilo que julgo ruim, quando me acontece, deve servir para meu aprendizado e constante capacitação. O único lugar onde os moradores não têm nada para aprender é o cemitério. Enquanto estivermos vivos, devemos agradecer e reconhecer que sempre podemos aprender e, assim, estar em equilíbrio e sintonia com o universo que nos cerca.

Principalmente, devemos ser gratos com aqueles que nos são mais próximos: em casa, no trabalho, no lazer. Devemos compartilhar os acontecimentos diários com nossos entes queridos. E aqui está uma oportunidade única para efetivamente escutarmos o que uma outra pessoa tem a nos dizer. Vamos ouvir a todos com atenção e deixar de lado assuntos que talvez não nos digam respeito. Isto fará muito bem para nosso espírito e, certamente, para nossa saúde. Na minha crença, a vida é uma só e passa muito rápido; não temos necessidade de apressar o seu fim. Aprenda a ser grato! Agradecer é uma gentileza que fará muito bem para quem recebe, mas fará ainda mais para quem a pratica.

Celso Tracco é economista, teólogo, escritor e palestrante.