Lysimaco Franco Ferreira da Costa. Esse paranaense nasceu em Curitiba nos idos de 1913 e faleceu em 1979. Em reconhecimento à sua luta por um Paraná melhor, Oswaldo Pacheco de Lacerda, diretor do Departamento de Estradas de Rodagem, em uma entrevista, assim o descreveu: "Permeio a essa juventude cientificamente e profissionalmente apta, figura um nome herdeiro das mais gloriosas tradições da ciência paranaense: Lysimaco Franco Ferreira da Costa Filho. Ele tem, apesar da verdura dos anos, uma bagagem de realizações afoitas".
Mas quais foram as obras desse modesto paranaense, que contou sempre com o apoio da esposa, Maria da Conceição Novaes da Costa? Ora, isso nos leva a rememorar alguns fatos da história do nosso estado, especialmente a construção da estrada que liga Curitiba ao Litoral, a BR-277, cujas obras começaram em 1950. Essa obra foi objeto de uma matéria jornalística do jornal O Dia, de Curitiba, em 13 de junho de 1946. O periódico questionava a viabilidade do projeto de construção da estrada de rodagem de Curitiba a Paranaguá, encurtando distâncias e com raio de 120 metros e rampa de 4 metros. "Será possível isto?", perguntava.
Pode-se dizer, sem sombra de dúvida, que foi graças a Lysimaco Franco Ferreira da Costa que tal evento foi realizado. Lysi, como era chamado, percorreu a pé durante 15 dias e 15 noites a Serra do Mar, enfrentando as intempéries, procurando as encostas para traçar os melhores caminhos para a autoestrada, evitando assim a construção de túneis ou quaisquer obras que onerassem excessivamente o Estado.
O que ele queria mesmo, e conseguiu, foi a redução da distância entre a capital e Paranaguá, ou seja, criar um escoadouro de todo o estado para o porto. Tal empreitada foi uma grande conquista, pois o local era de difícil acesso; ele e os trabalhadores penetravam no abrupto da serra em picadas abertas a facão, uma Mata Atlântica inóspita e também uma incógnita, mas venciam as altas encostas do paredão da Serra do Mar corajosamente, descortinando uma magnífica visão do oceano e de Paranaguá agora não distante. Em tudo isso, Lysimaco esteve à frente, dando sua contribuição destemida e com o propósito firme de abrir uma nova fronteira de escoamento para o Paraná que se revelava em grande importância econômica, social e política para a população do estado agora necessitado dessa rodovia, assim como a nação.
Neste contexto, em 1944, Lysimaco ganhou a concorrência para a construção da autoestrada Curitiba-Paranaguá. Essa vitória não foi conseguida com facilidade, pois ele fez um projeto ambicioso para a sua época, visando sempre à economia para o Estado. Todo o projeto foi feito à mão, assim como a arquitetura das pontes agregadas às rochas existentes no local, em vez de viadutos muito onerosos. Como se observa, Lysimaco empregou toda a sua capacidade profissional dedicando esforços inauditos à abertura dessa rodovia que poderíamos chamar de "a estrada do meio num caminho". A BR-277 foi concebida por Lysimaco de maneira arrojada e considerada única em todo o país, por ter sido construída num local tão adverso, que oferecia todo tipo de obstáculos, como o terreno muito úmido, dificuldade de trânsito por estradas vicinais e o excesso de chuvas, além de toda uma preocupação ambiental em relação à sua biodiversidade.
Certamente, o que mais chama a atenção nessa estrada é o seu traçado, no qual o engenheiro buscou uma faixa de terra que encontrou abruptamente nas encostas do paredão da Serra, descortinando-lhe o Litoral, uma rara beleza vista do abismo. O maior desgaste foi no alto da serra, onde exigiu-se um planejamento totalmente diferenciado do restante da construção. Mesmo assim, Lysimaco não desistiu e conseguiu executar sua obra personalíssima com características modernas, como a colocação no projeto da pista duplicada. A obra só terminou na década de 1960 e a duplicação ocorreu na década de 1980.
A Lysimaco deve-se toda a grandiosidade do empreendimento, especialmente por ter conseguido reduzir a distância entre a capital e o Porto de Paranaguá, trajeto que antes era feito pela antiga Estrada da Graciosa, considerada muito perigosa pelo excesso de curvas e com um traçado que em nada auxiliava o escoamento. Na nova autoestrada, Lysimaco conseguiu maior suavidade nos aclives e nos declives, com uma moderna técnica adotada nos raios de curvas, configurando-se numa realização notável a escolha dos rumos no traçado.
Carlos Renato Novaes Ferreira da Costa, formado em Administração e artista plástico.