O Brasil possui uma das matrizes energéticas mais limpas do mundo. Números da International Energy Agency revelam que o índice de energia renovável utilizada no país dentro da matriz energética é maior que a média mundial: 35% contra 13,5% no planeta. Nos Estados Unidos, esse índice é de apenas 4,3%.
A rica matéria-prima que se encontra entre os resíduos do setor sucroenergético, por exemplo, abre um mar de possibilidades para a geração de energia limpa. Estudo do professor Marcos Fava Neves, da FEA/USP de Ribeirão Preto, de junho deste ano, revela que, na safra 2013/14, o segmento identificou um Produto Interno Bruto (PIB) de US$ 43,3 bilhões, aumento de 44% na comparação com a safra 2008/09.
O Brasil produz anualmente 450 milhões de toneladas de resíduos de cana-de-açúcar, ainda subutilizados. O volume é quatro vezes maior que a quantidade de resíduos de lixo urbano gerado a cada ano por toda a população brasileira. Não há outro país no mundo que se equipare ao Brasil em potencial para geração de energia a partir de resíduos da cana-de-açúcar. Somos o único país onde o total desses resíduos pode gerar energia equivalente à produzida pela usina hidrelétrica de Itaipu.
Longe de ser a única solução para a atual crise energética do país, o processamento dos resíduos da cana para geração de biogás e, posteriormente, de energia elétrica é certamente uma alternativa para o setor energético. Tendo como base o processo natural da biodigestão, após uma década de trabalho pesquisadores conseguiram atingir a escala comercial de produção de biogás a partir desses resíduos. Por um processo 100% limpo, já é possível produzir energia 100% verde sem o uso de terras e matérias-primas nobres, onde a terra já foi trabalhada e com os resíduos da produção de açúcar e álcool.
A evolução natural já em curso é a conversão desse biogás e o uso dele para substituir o diesel de toda a frota das usinas. Quando essa meta for atingida, o etanol produzido por tais usinas alcançará uma redução de 95% na emissão de gases do efeito estufa frente a um combustível fóssil, tornando-se assim o primeiro combustível líquido carbono neutro, conforme comprovaram estudos do Centro Nacional de Referência em Biomassa (CenBio) da USP. O potencial do setor sucroenergético na produção de energia verde pode ser estendido a toda a agroindústria, na medida em que avançarem as pesquisas sobre a biodigestão controlada de seus resíduos.
O governo tem reconhecido essas novas alternativas por meio de programas de incentivo ao desenvolvimento científico e tecnológico na área de produção de biogás. Exemplo disso é o P&D 014/2012, da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), que prevê o investimento de R$ 476 milhões, nos próximos três anos, na instalação de 33,7 MW em usinas de geração de energia elétrica a partir do biogás de resíduos e efluentes líquidos.
Outro incentivo por parte do governo é a política de isenção de impostos no mercado livre de energia elétrica. Enquanto a energia elétrica gerada a partir de biogás é considerada 100% verde e conta com 100% de isenção de Tarifa de Uso do Sistema de Distribuição/Tarifas de Uso do Sistema de Transmissão (Tusd/Tust), a cogeração pela queima do bagaço, a energia eólica e as pequenas centrais hidrelétricas (PCHs) contam com 50% de desconto. Na prática, o governo dá esse prêmio às geradoras de energia a partir do biogás para cada megawatt gerado. É que o Estado já se deu conta do retorno e do impacto no curto, médio e longo prazo do investimento nas energias verdes.
Evaldo Fabian, engenheiro, é diretor da GEO Energética.
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