Notoriamente, infraestrutura e logística são desafios para o crescimento da economia brasileira e para a competitividade de muitos segmentos. A falta de investimentos em hidrovias e ferrovias faz com que o país seja dependente do modal rodoviário, com 60% das cargas transportadas pelas estradas, segundo a Confederação Nacional de Transportes (CNT). Essa realidade faz com que os caminhoneiros sejam parceiros de muitos setores da economia, com destaque para o agronegócio, que precisa transportar cargas volumosas, tanto para atender a demanda interna de alimentos do país como para permanecer no topo do ranking de maior exportador do mundo de diversas commodities.
A greve dos caminhoneiros prejudicou vários setores da economia, e no agro não foi diferente. A Região Sul, por ser a maior produtora de carne de frango e carne suína, sentiu diretamente os impactos. No caso das aves e suínos, os produtores também enfrentaram dificuldades para obter insumos e alimentar os animais. Com risco de canibalização e condições críticas de produção, no oitavo dia da greve cerca de 70 milhões de aves já tinham sido sacrificadas, segundo a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA).
A contabilidade final pode apontar para um número bem maior ao considerar que a capacidade de abate de aves no Brasil é de 23 milhões de cabeças diárias e as normas sanitárias brasileiras são rigorosas, o que deve impedir o abate de aves que não receberam o cuidado necessário no período da greve. No caso da suinocultura, 20 milhões de animais encontravam-se em risco de morte como consequência da paralisação, de acordo com a ABPA. Um prejuízo de cerca de R$ 3 bilhões para os setores de aves e suínos foi estimado pela associação.
O agronegócio brasileiro terá dificuldade em atingir os esperados níveis de crescimento
As consequências ainda serão sentidas pela Região Sul nos próximos meses, uma vez que a recuperação do ciclo de produção pode demorar quase seis meses para os suínos e quase dois meses para as aves. O Sul também tem grande representatividade na produção de grãos, como a soja e o milho. No entanto, para essas cadeias o impacto foi moderado quando comparado com a indústria de proteína animal.
No caso da soja, como a colheita da safra 2017/18 já está encerrada e mais de 60% dos grãos já foram comercializados, o principal efeito da greve foi a dificuldade de escoar os grãos até os portos. A dificuldade de escoamento também afetou as indústrias de moagem, que, após armazenarem o máximo de farelo e óleo, tiveram de paralisar as atividades.
Para a cultura do milho, como a primeira safra já está praticamente toda colhida e a segunda safra ainda está em desenvolvimento dos grãos, os impactos foram menores. O ponto de atenção é que os produtores devem considerar uma possível queda na demanda doméstica de milho causada pela morte de aves e suínos.
Leia também: Prejuízos e lições da greve dos caminhoneiros (artigo de Edson Campagnolo, publicado em 3 de junho de 2018)
Leia também: O tamanho dos custos (editorial de 30 de maio de 2018)
A greve evidenciou que o agronegócio brasileiro terá dificuldade em atingir os esperados níveis de crescimento e aumentar a sua participação no cenário internacional se as questões logísticas internas não receberem a devida atenção e planejamento. Apesar de toda a eficiência e a produtividade no campo, o agronegócio brasileiro ainda sofre com a falta de infraestrutura e logística adequadas, com um plano focado no longo prazo e não limitado a quatro anos.
Mas, como sempre, nesse cenário de desafios, surgem também oportunidades. Empresas já atuantes no agronegócio, fundos de investimentos e investidores internacionais percebem que projetos privados ou parcerias público-privadas (PPP) podem viabilizar o escoamento de cargas utilizando outros modais, como o que acontece no Arco Norte, um exemplo de coordenação e planejamento que traz bons resultados para todo o setor.
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