Curitiba sediou na semana passada o Smart City Business America, um congresso que debateu diversos temas dentro do conceito de cidade inteligente, em especial o da mobilidade urbana. Especialistas do Brasil e do exterior puderam compartilhar suas visões e dividir experiências. Além disso, uma discussão que esteve presente em todo o evento foi sobre o impasse entre colocar em prática as medidas essenciais para a melhoria da mobilidade e a falta de recursos para tal em um momento de desaceleração econômica. Como equacionar a necessidade de investir em qualidade no transporte público para atrair passageiros com verbas cada vez mais escassas para isso?
O dono do sistema de transporte é o passageiro e precisamos pensar em como beneficiá-lo
Na mesma semana do congresso, o cenário ficou ainda mais desafiador após o governo federal anunciar um corte no orçamento de R$ 69,9 bilhões. Só o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), responsável por parte expressiva das obras de mobilidade urbana, sofreu um contingenciamento de R$ 25,7 bilhões. Além disso, o Ministério do Planejamento agora está em sintonia com analistas de mercado e prevê retração de 1,2% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2015. Se em tempos mais promissores já era difícil avançar na questão da mobilidade, como ficará a situação diante de um ambiente menos favorável?
Os especialistas foram unânimes em apontar que, sem investimentos, a prioridade ao transporte público fica apenas no discurso e se perde, na prática, a única saída para evitar o colapso das cidades. Eles citaram as medidas que precisam ser tomadas com o objetivo de melhorar a mobilidade urbana: mais corredores exclusivos aos ônibus, uma solução eficiente e barata em relação ao metrô; investimentos em pontos de parada e terminais, com informações confiáveis para que as pessoas possam programar seus trajetos; caminho livre para os ônibus nos cruzamentos por meio de semáforos inteligentes, a fim de que os veículos correspondam à expectativa dos passageiros quanto ao cumprimento de horários.
O problema está em transformar o discurso em realidade em um período de ajustes na economia, sabendo que essa transformação é necessária e que, quanto mais tempo levar, mais complicada será sua execução. Não há mágica: transporte de qualidade precisa de investimentos. E para financiá-lo, podemos pensar em subsídio. Essa medida, bastante comum em países que planejam a mobilidade urbana, ainda é vista com desconfiança em todo o Brasil.
Curitiba e Região Metropolitana não têm infraestrutura para suportar mais carros nas ruas e seus sistemas de transporte estão à beira do colapso. No congresso sobre cidades inteligentes, o prefeito Gustavo Fruet relatou os desafios enfrentados pela capital paranaense: falta de recursos do município para financiar o sistema, dificuldades das empresas de ônibus em obter crédito junto a instituições financeiras para honrar seus compromissos e a busca por uma tarifa equilibrada no momento em que os custos só aumentam.
De minha parte, considero que o dono do sistema de transporte é o passageiro e, mesmo diante de um cenário desafiador, precisamos pensar em como beneficiá-lo. Curitiba foi pioneira em apontar soluções para a mobilidade urbana. É hora de inovar novamente.
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