Não é possível conceber tamanha tolice que se choca com o que há de mais coerente na participação de um concurso público, a isonomia, os direitos iguais aos participantes
Vindo de alguns revoltos estudantes, esperançosos em conquistar uma vaga em uma universidade federal pública brasileira, este pejorativo "Sistema ineficaz de seleção unificada" para o Sistema de Seleção Unificada do MEC/Inep combina bem. E não se trata de qualquer discurso oposicionista. Esse é o termo que tanto se usa no momento para definir o até então respeitável Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Anísio Teixeira (Inep). De fato, é de entristecer seu mais ardoroso defensor que entende os arranhões na credibilidade do órgão em face de tanta bobagem depositada em um processo de seleção de estudantes.
Se há uma desculpa para tantas confusões no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) de 2009 que agora se desdobra em SiSU, deve ser a da pressa em fazer, de algo que já era bom, o Enem, algo ainda melhor. Isso é compreensível, o que ninguém entende é a continuidade dos erros nessa proposta, pois a cada dia surge uma novidade para o estudante que não sabe se continuará sendo um, porque hoje se diz uma coisa, amanhã tudo muda. É a completa insensatez de quem gerencia tal processo.
Em março de 2009, a educação no Brasil presenciou uma hecatombe. Mudanças drásticas no maior exame de conhecimentos do país, o Enem, aconteceriam naquela edição. Alterações contundentes na proposição do exame, 200 questões em 4 áreas do conhecimento. Escolha de até cinco cursos nas universidades que adotassem a nova sistemática alcunhada como SSU, esse era o nome apresentado em abril. Meses e confusões inúmeras depois, 20 questões desapareceram e se aplicaram efetivamente 180 questões.
Em outubro, a grande crise do vazamento, as provas foram remarcadas para outra data. Curioso é que os R$ 31 milhões ou mais gastos para tal prova também ficaram esquecidos, mas o contribuinte pagou.
Em dezembro o exame aconteceu e outros problemas como o da evasão de candidatos, algo em torno de 40%, a maior da história do Enem em seus 11 anos de existência bem construídos.
Um gabarito errado, outro estapafúrdio lançado na rede e os estudantes e educadores sofrendo com tudo isso.
O final dessa confusão é chamado como SiSU, apelido dado a quem se desconhece, segundo apurei junto a vários estudantes com seus escores nas mãos e as indagações sobre os critérios de pontuação. Já não são mais as cinco opções publicadas em toda imprensa com os depoimentos dos técnicos do Inep que respondiam oportunamente pelas mudanças no exame. Nem sequer as três propaladas após o vazamento da prova. Eis que o estudante crente nisso tem uma possibilidade de concorrer à sonhada vaga e, como se não bastasse mais nada, magicamente alguém evoca outra vez a pressa. A donatária da confusão reaparece e aponta para a velocidade em se inscrever. Afirmaram que os primeiros inscritos, isso há poucos dias, conseguiriam as vagas.
Sinceramente, não é possível conceber tamanha estultícia que se choca com o que há de mais coerente na participação de um concurso público, a isonomia, os direitos iguais aos participantes.
Voltaram atrás. Quem disse tal atrocidade, a perturbação o levou, sumiu e ficou assim, pela média. E há outra forma que não seja a do mérito indago nessa conclusão ainda inquieta pelos desdobramentos. Certo de que aqueles que negligenciaram a redação roem as unhas dos pés agora, pois ela virou o primeiro critério de desempate. Algo que ninguém sabia. Era um segredinho para um governo que se arvora em apregoar a transparência pública. Após tudo isso, tanta roupa suja, resta esperar pela divulgação dos resultados por região, estado, cidade e sobretudo instituições de ensino e, após esse "fervo", observar com muita competência o que se pode fazer pelas escolas que estão à margem desse processo qualitativo, eliminando as falhas e colaborando efetivamente pela melhoria do ensino no país, sobretudo "atacando" a disparidade entre os números, frios mais existentes, entre o Sul, Sudeste, o Norte e o Nordeste.
De resto surge um novo ano letivo com mais emoções, uma vez que ninguém sabe sobre as datas do Enem 2010, se haverá uma ou duas edições do exame, mesmo cientes de que muitas Instituições de Ensino Superior (IES) precisam de um novo Enem até abril. Essas escolas realizavam, antes da adesão ao SiSU, dois concursos vestibulares. Como isso ficará, como mencionamos, ninguém sabe ou se sabe não divulga, mais um segredinho, um mistério que o pós-carnaval pode revelar. Será?
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Marlus Humberto Geronasso é professor de Língua Portuguesa em escolas públicas e privadas do Paraná.