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| Foto: Ivano di Biasi/Free Images

O que é uma cidade humana e inteligente? Essa reflexão foi trazida na recente edição do Smart City Expo World Congress, em Barcelona. Neste contexto, entender o papel da tecnologia nas nossas vidas foi o grande desafio, mais uma vez.

Estima-se que em breve 70% da humanidade estará concentrada em apenas 2% do planeta. Um enorme desafio concentrado em áreas geográficas muito limitadas. Sustentabilidade, mobilidade, energia, moradia, emprego, lazer, segurança, água, alimentação e qualidade de vida são temas que estão no imaginário de todos os que estão buscando entender e atuar para resolver os desafios existentes.

As principais reflexões giraram em torno de três pilares: inovação, tecnologia e ser humano.

Novos problemas são resolvidos com novas soluções; portanto, a inovação torna-se a base para qualquer discussão. Práticas e conceitos do passado só nos levam a respostas que não resolvem os desafios atuais. A melhoria contínua, conceito fundamental para que o Japão se tornasse a potência econômica que é hoje, tem o ritmo do século passado. Para acompanhar as mudanças tão aceleradas de hoje em dia, temos de ir ao ritmo da inovação disruptiva, pois é ela que nos permite fazer saltos e, assim, encontrar soluções na mesma velocidade do mundo atual.

O ser humano surge como epicentro da transformação pelo fato de que nada faz sentido sem ele

A tecnologia tem entrado nas nossas vidas quase sempre sem pedir licença. Comunicarmo-nos de maneira mais rápida foi sempre um objetivo da humanidade, mas não lembro de ter escutado os gritos das pessoas nas ruas pedindo que seus telefones pudessem acompanhá-las a todas as partes. Nunca imaginamos que isso seria possível. Essa foi uma tremenda transformação; este aparelho, inicialmente de comunicação de voz, apesar de caber nas nossas mãos, modificou para sempre a maneira como fazemos muitas das coisas que conformam hoje o nosso cotidiano.

“É necessário deter-se e pensar como as cidades vão seguir integrando todas as soluções tecnológicas que nos vão apresentando como os elementos essenciais das smart cities. As cidades já não são somente um território, um espaço delimitado, definido pelos seus limites administrativos. Já não podemos governar somente com mapas, temos de ver todas as camadas da realidade se esta quer transformar-se. Necessitamos de uma concepção nova que entenda que as grandes oportunidades para gerar mais cidade (sustentável) passa por ampliar e promover mais cidadania”, afirma Antoni Gutiérrez-Rubí em Smart citizens, ciudades a escala humana. O ser humano surge como epicentro da transformação pelo fato de que nada faz sentido sem ele. A sustentabilidade de nosso planeta está agora muito ligada à das cidades. Objetivar não somente a melhoria da qualidade de vida, mas principalmente a sua sobrevivência como espécie no planeta. Somos nós, os cidadãos, que temos de escolher, entre tudo o que nos oferecem, aquilo que faz sentido para a cidade inteligente na qual queremos viver.

Como podemos encontrar o caminho para que a nossa cidade não seja uma smart technological city, mas uma smart human city?

A primeira reflexão está na dimensão da identidade de uma cidade. Para que ela existe? Neste contexto, a tecnologia entra para servir ao homem, não o contrário. A cidade existe para servir às pessoas. Para isso, ela precisa se tornar uma oportunidade de crescimento pessoal, de melhoria de vida, de oportunidades de evolução coletiva e individual.

As cidades produzem crescimento econômico pela concentração de empresas que têm. Precisamos ter presente que houve uma grande mudança no que as empresas buscam para se desenvolver. Antigamente, elas escolhiam onde instalar-se por atributos ligados à geografia. Se eram comerciais, escolhiam um porto ou o encontro de rotas importantes; se eram fabricantes, escolhiam onde havia energia barata; se eram extrativistas, perto de uma mina. Na era do conhecimento, as empresas buscam os lugares onde estão os talentos. Temos de tomar isso como um fator importante para valorizar o ser humano, que deve ser colocado no centro de todo o desenvolvimento. Assim, é fundamental pensar que, na era do conhecimento, o talento deve ser parte fundamental da identidade das cidades que querem aspirar a ser cidades inteligentes.

Leia também: Cidades inteligentes: quais os principais desafios à inovação? (artigo de Dyonata Laitener Ramos, publicado em 9 de dezembro de 2017)

Leia também: Os cidadãos e as cidades inteligentes (artigo de Luís Mario Luchetta, publicado em 19 de novembro de 2016)

Na dimensão das relações, para o conceito de smart city, a tecnologia entra como agregador em relações cada vez mais fluidas e transparentes entre cidadãos e serviços, sejam eles privados ou oferecidos pelas prefeituras. A colaboração substitui o mindset da competição, gerando valor coletivo.

Na dimensão dos processos, a gestão das cidades oportuniza mobilidade, segurança, serviços mais ágeis (também criação de empresas), sistemas educativos eficientes etc. A tecnologia entra como importante aliada dos serviços. Isso valorizaria o ser humano, como queremos. Como exemplo, podemos citar os aplicativos para marcar consultas em hospitais públicos, que permitem utilizar melhor a disponibilidade de médicos.

Na dimensão dos recursos, uma cidade inteligente usa a tecnologia para alterar os recursos existentes, melhorando a qualidade de vida e a sustentabilidade. Melhor mobilidade melhora as ruas existentes, pois reduz o tráfego de veículos.

Para não ficar no âmbito da teoria, um exemplo prático é Barcelona, cidade que soube fazer-se cada vez mais atrativa com o passar dos anos. Antes dos Jogos Olímpicos de 1992, a cidade recebia 2 milhões de turistas por ano; atualmente, recebe 16 mil. Por quê? Porque é segura, porque tem gente de todo lado, oferece trabalho em empresas criativas e inovadoras, porque é linda, porque tem história, porque sua gente é gentil, tem excelente mobilidade, variedade e qualidade em comida e bebida, porque oferece diversão de qualidade para todos os níveis sociais e idades.

Barcelona equilibra todas as dimensões: a identidade, as relações, os processos e os recursos. Sabe para que existe, conecta e cria relações, faz os serviços funcionarem e tem uma infraestrutura compatível com o que quer oferecer. E, assim, melhora a vida dos seus cidadãos globais.

Fernando Lorenz é ex-diretor do Instituto Brasileiro da Qualidade e Produtividade (IBQP).
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