Entende-se, justifica-se o assanhamento que vitamina a campanha do candidato Lula à reeleição com os bons resultados de alguns índices econômicos e nos desencontros das pesquisas, que não coincidem nos percentuais, mas registram a recuperação da popularidade que baixara ao porão.

CARREGANDO :)

Lula tem feito o que pode e até o que não deve, absolutamente indiferente às cobranças e críticas ao desembaraço com que colocou o governo a serviço da briga pelo segundo mandato. Como não é dado a tais sutilezas e joga habilmente com o porrete de duas pontas, reclama dos outros o que copia com o rosto sombreado pela barba grisalha e conquista o confortável atestado da irresponsabilidade.

As trombadas éticas, o abuso da engenhoca administrativa, as inaugurações mais estapafúrdias, a ocupação do programa oficial de rádio do seu Bom Dia, Eleitor pisam o gramado murcho do ridículo. Mas, se agrada o povão e rende votos, o resto que se dane. Em tal bagunça, raspa pela ingenuidade da impertinência cobrar o mínimo de coerência nas afirmações que se sucedem na cascata oratória dos múltiplos improvisos da agenda de cada dia. Do jeito que a campanha dispara, a falta de obras que realmente legitimem a solene e pomposa presença presidencial, ainda vamos assisti-lo, nos noticiários da TV, inaugurando buraco tapado na rede rodoviária em pandarecos.

Publicidade

Esta semana, com o ritual completo da viagem no AeroLula, comitiva, palanque e improviso, inaugurou a subestação elétrica de Viana, no Espírito Santo, com a presença do governador Paulo Hartung. Obra que não exigiu mais de oito meses para ficar pronta, regada com a modesta ajuda federal de R$ 120 milhões, menos do que os lances do mensalão e do caixa 2. O tema central do discurso do candidato foi a defesa da derrubada, na primeira votação da Câmara, da verticalização das eleições. E o realejo moeu a potoca cômica das suas dúvidas existenciais sobre se será ou não candidato a novo mandato nas eleições de outubro. Vá lá que a corda balance, dificulte o equilíbrio decoroso. O que não é aceitável é a repetição fastidiosa da patranha, no truque grosseiro de tentar tamponar as caneladas na frouxa ética eleitoreira. Pois todo mundo está nauseado de saber que Lula é, sempre foi candidato à reeleição, não pensa noutra coisa e não cuida de outro assunto nas horas úteis do seu dia de folgada rotina administrativa.

Talvez agora, aliviado com a inestimável ajuda do companheiro ministro Nelson Jobim, presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), que concedeu a liminar cancelando a decisão da temida CPI dos Bingos de quebra do sigilo bancário, fiscal e telefônico do presidente da Sebrae, Paulo Okamotto – o amigo mão-aberta, de generosida-de perdulária do presidente Lula, que quitou, sem o seu conhecimento, uma dívida pendurada de R$ 29,4 mil –, os discursos e declarações do candidato possam fazer as pazes com a coerência, Nos solavancos dos buracos das estradas, Lula perdeu a direção e o controle da língua. Em reunião do monstrengo ministerial, gabou-se que ninguém neste país conhece melhor do que ele o estado deplorável das rodovias, pois percorrera 91 mil km na Caravana da Cidadania. E lamentou que a situação continuasse inalterada. Meses depois, quando a indignação das vítimas colidiu com a campanha, improvisou a operação tapa-buracos, simples expediente para calar os protestos e que segue aos trancos provocando engarrafamentos de horas sob o sol do verão. Na última versão, Lula criticou os críticos, bancou a vítima da injustiça: o governo apanhou porque não tapou a buraqueira, agora é espancado porque tapa buracos. Francamente, falta seriedade ao discurso e ao comportamento do presidente em campanha. E não seria pedir muito rogar um pouco de comedimento, com o alívio do sufoco, a leve brisa a favor e a ajuda inapreciável do companheiro presidente do STF, ministro Nelson Jobim, excelente opção como candidato à vice-presidência, para completar a chapa da aliança perfeita dos dois poderes. No Congresso é fácil ajeitar as coisas depois da eleição. Nem que seja preciso criar mais uma dúzia de ministérios e redistribuir os milhares de cargos de confiança, sinecuras e demais delícias ocupadas pelos companheiros do PT. Até porque a bola do PT está tão murcha que nem quica no gramado do mensalão e da entalada CPI dos Bingos.