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 | Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil
| Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil

No campo fiscal o jogo está encaminhado, longe de estar ganho. A aprovação da PEC 241 (ou 55, no Senado) é importante, mas precisa da assistência da reforma da Previdência e de uma dura renegociação da dívida dos estados – e esta última, a julgar pelo que a Câmara aprovou, não terá a necessária dureza.

Existe ainda outro pedaço do campo que preocupa o governo: o do crédito. Com a queda da confiança, o crédito caiu, apesar de a inadimplência ter ficado relativamente baixa. A quantidade de crédito hoje disponível na economia brasileira é a mesma que circulava em 2012. Assim, 2016 é o primeiro ano em duas décadas em que o crédito vai se retrair em vez de crescer.

A literatura econômica, principalmente os estudos de Ben Bernanke – então presidente do Banco Central americano durante a crise de 2008 – e outros autores, sugere que existe um “acelerador financeiro” advindo do crédito que impacta o crescimento da economia. Porém, o efeito negativo existe: um desacelerador que pode acontecer ao fim de um ciclo de expansão da economia ou por um choque adverso. Não por coincidência, a economia brasileira vive o misto dos dois, o fim de um ciclo e um choque adverso vindo da turbulência política.

2016 é o primeiro ano em duas décadas em que o crédito vai se retrair em vez de crescer

Das medidas que o governo anunciou para melhorar o toque de bola no campo do crédito, as com efeito mais imediato na economia são a diminuição do prazo do lojista para ele receber contas no crédito e o aumento do limite de financiamento do BNDES para empresas pequenas.

A primeira medida é interessante, uma vez que impacta o pequeno lojista e o profissional autônomo que prefere não trabalhar com cartão de crédito exatamente pela demora em receber – pense que o taxista, por exemplo, precisa abastecer o carro amanhã e não daqui a 30 dias. Impactos como o aumento da taxa do cartão para o lojista ou o aumento dos juros para a pessoa física são improváveis em um momento no qual as pessoas estão usando menos o cartão e a concorrência de máquinas para os lojistas está crescendo exponencialmente. Hoje já existem máquinas que oferecem o pagamento em 15 dias, em vez dos atuais 30 dias.

A segunda medida é o BNDES atuando exatamente onde ele foi desenhado para atuar, fornecendo crédito barato para investimentos de empresas que não conseguem acessar de forma vantajosa o mercado de crédito privado. O pequeno empresário ganhou o dobro de prazo no cartão BNDES e uma versão “agro” do cartão está sendo criada para o produtor rural. Está aberta também uma roda de renegociação de dívidas junto ao BNDES, para empresas que faturam até R$ 300 milhões e para aquelas enroladas com o desastrado Programa de Sustentação do Investimento (PSI), legado desenvolvimentista da gestão Dilma Rousseff.

As medidas são tímidas, apesar de serem importantes. Porém, mais pode ser feito. As grandes empresas, nos últimos anos, praticamente dobraram a relação dívida/Ebitda (uma métrica que mostra quantas vezes o lucro antes do pagamento de juros, impostos, depreciação e amortizações corresponde à dívida da empresa). Na mediana, essa métrica saiu de 1,8 para 3,6, enquanto para grandes empresas ainda mais endividadas a métrica gira em torno de 7,2 – o dobro em relação a 2012. O crédito à pessoa jurídica caiu cinco pontos porcentuais do PIB em 2016, o que tira muito espaço para a recuperação.

Medidas que estimulem o crédito devem ser um dos focos do governo em 2017, em um cenário em que o crescimento esperado já é próximo de zero e no qual o risco do terceiro ano de recessão estará no radar. Medidas de estímulo devem ser estudadas, mas lembrando do fracasso que foi a expansão sem medidas do BNDES e do crédito para consumo impulsionado por bancos públicos nos últimos anos. Muito pode ser feito sem repetir os erros do passado.

Ainda estamos com a atividade em retração. O governo precisa ser mais ativo e propor medidas mais duras, como a reforma trabalhista, por exemplo. Pois o jogo só termina quando acaba, ou seja, quando finalmente sairmos dessa recessão.

Victor Candido de Oliveira é editor do site Terraço Econômico e assistente de pesquisa do CPDOC-FGV.
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