Inevitáveis e imprevisíveis decorrem da formação da Terra. São estruturais, incontroláveis, irremediáveis. Assim como os vulcões funcionam como válvulas de escape, tremendas liberações de energia.

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Sismos ocorrem nas grandes falhas geológicas e decorrem do movimento permanente das placas tectônicas que deslizam, chocam-se e quando não há mais lugar para acomodações forçam rupturas. Sem essas catástrofes o planeta já teria deixado de existir. Outra das engenhosas combinações de vida e morte que tornaram possível a nossa existência.

O terremoto da última quarta em Pisco, Peru, e a turbulência na economia mundial embora transcorridas em esferas distintas podem ser amarradas através de comparações diretas ou indiretas, paralelismos ou metáforas. Desde que respeitada a diferença elementar: a mexida geológica no litoral do Pacífico, rigorosamente imponderável, não teve a participação da mão do homem, não foi "operacional".

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Já as ondas sísmicas que varreram o mercado imobiliário-financeiro americano foram provocadas pela intervenção humana. Livre arbítrio e livre iniciativa em altíssimas doses. Os efeitos perversos não tinham data para correr, sua origem, forma ou intensidade embora indefinidas eram teoricamente cogitáveis.

A cada "exuberância" em determinado segmento da economia segue-se uma acomodação, geralmente brusca, porque os sismógrafos do mundo empresarial são controlados por fatores subjetivos e pela formidável disposição humana em acreditar na sua infalibilidade. Ou na felicidade inevitável.

O susto bursátil dos últimos dias poderia ser classificado no jargão econômico como a monetização do sonho da casa própria. A garantia de uma morada (considerada como um dos vetores básicos do processo econômico) foi convertida numa commodity como outra qualquer e sujeita ao mesmo processo intensamente especulativo do capitalismo pós-industrial.

A casa como fator de estabilidade pessoal/familiar foi convertida em ficha de cassino que instituições financeiras precariamente fiscalizadas usaram para apostar na irreversibilidade da valorização imobiliária. A primeira onda de inadimplências derrubou o castelo de cartas e papéis. O processo foi aparentemente estancado na manhã desta sexta-feira através de medidas emergenciais do Federal Reserve americano.

No mesmo continente, não muito longe do epicentro da catástrofe peruana, a mão do homem (ou a sua mente, dá no mesmo), mostrou novamente a sua incontrolável inclinação para a malignidade e sua infinita capacidade para armar terremotos.

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É uma caricatura o remendo constitucional apresentado pelo caudilho venezuelano Hugo Chávez na quarta-feira. Farsa legal, ópera-bufa, fanfarronada. Não se trata de reforma política, mas da decretação do fim da política. Na essência, pouco se diferencia do golpe de Estado de Mussolini (1922), da patranha de Hitler (1933) ao prometer o respeito à Constituição para rasgá-la dias depois de tomar posse ou do Estado Novo de Getúlio Vargas (1937). Equivale à proclamação de uma monarquia absolutista, feudal, garantida pelos petrodólares e pela vocação fascistóide de certas esquerdas latino-americanas.

Encarapitado nos palanques, fascinado com a sua própria peroração, Sua Majestade Hugo Chávez acredita-se imbatível, eterno, êmulo dos deuses. O seu socialismo é sui-generis, um dos únicos que ignora a dialética, a força das contradições, a dinâmica dos processos reativos. Despreza a história e, o pior, não acredita na geologia.

Alberto Dines é jornalista.