Lugar de mulher é onde ela quiser, sabemos. Seja como chefe do lar, seja como CEO, é unânime a habilidade feminina para lidar com jornadas multifacetadas e, ainda, ter um olhar afiado para o cuidado com o próximo. Mas em meio a tantas responsabilidades, como fica o autocuidado?
Desde a Revolução Industrial, a sociedade vem experimentando mudanças em um ritmo vertiginoso. Em poucas décadas, alterações no modo de produção e nas relações de trabalho, assim como o advento tecnológico, desencadearam profundas – mas ainda insuficientes – transformações econômicas, nas dinâmicas sociais e nas estruturas patriarcais.
No século 19, as exaustivas jornadas de trabalho remunerado já não se restringiam apenas aos homens. Mas para as mulheres, havia agravantes: exposição a condições insalubres que acometiam sua saúde física, impedimento de votar e ocupar cargos públicos, entre outros fatores que visavam a anulação do seu papel e contribuições na sociedade.
E não é só a pressão sobre si mesma, também conhecida como a “Síndrome da Impostora” e o acúmulo de atividades que cobram seu preço na saúde feminina: para além dos revoltantes casos graves de ameaças, violência doméstica e feminicídios, acrescento as chamadas “micro” – que de micro, não tem nada – agressões de gênero, como injúrias, clichês verbais ou comportamentais, falas preconceituosas, interrupções, exposições sobre vida pessoal e desenvolvimento de carreira.
Apesar dos avanços, ainda precisamos lidar com vieses inconscientes que limitam o nosso pensamento quanto à capacidade e o potencial femininos. E no quesito saúde mental, de acordo com a OMS, as mulheres têm duas vezes mais chances de desenvolverem transtornos de ansiedade e três vezes mais chances de desenvolverem transtornos depressivos.
Precisamos falar de autocuidado não só no Outubro Rosa, mas o ano todo. A data é sobre exames de rastreio sim, mas não somente. É sobre o fortalecimento de redes de apoio, do fomento à diversidade e inclusão, da oferta de cuidado às populações mais vulneráveis, da construção de relações de confiança que ajudem na promoção da saúde física e mental. Nessa perspectiva, talvez as mulheres plurivalentes da nossa sociedade possam ter condições de realizarem um autocuidado que contribui para uma vida não apenas longeva, mas mais saudável.
Nelcina Tropardi é diretora-geral de Jurídico, Relações Governamentais, ESG e Compliance na Dasa.
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