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Recentemente, na COP16 da Biodiversidade em Cali, o conceito de sociobiodiversidade emergiu como uma das chaves para enfrentar desafios ambientais e sociais globais. Este termo, que combina dimensões ambientais, sociais e culturais, ressalta a interdependência entre a biodiversidade e as comunidades locais. Ele aponta que a conservação não é apenas sobre preservar a natureza, mas também sobre valorizar os saberes e práticas de povos indígenas, ribeirinhos, quilombolas e outras comunidades tradicionais.
Com apenas 5% da população mundial, essas comunidades protegem cerca de 85% da biodiversidade do planeta. Elas demonstram que o uso sustentável dos recursos naturais é possível quando se alia conhecimento tradicional com inovação tecnológica. Durante a COP16, vimos importantes avanços, como a criação de um órgão subsidiário da Convenção sobre Diversidade Biológica (CDB), que assegura a participação formal dessas populações nos processos decisórios.
Com 20% da biodiversidade mundial e uma rica diversidade cultural, o Brasil já deu passos importantes com a Estratégia Nacional de Bioeconomia. Essa iniciativa transforma biodiversidade em inovação, gerando emprego e justiça social
Outro marco foi o fortalecimento das Soluções Baseadas na Natureza (NBS), cruciais para combater as mudanças climáticas, proteger ecossistemas e alcançar a meta de conservar 30% das áreas terrestres e marinhas até 2030. Esses esforços precisam de um comprometimento genuíno de governos e empresas, para integrar as NBS às suas estratégias e apoiar comunidades locais.
No contexto brasileiro, o potencial para liderar essa agenda da sociobiodiversidade é imenso. Com 20% da biodiversidade mundial e uma rica diversidade cultural, o Brasil já deu passos importantes com a Estratégia Nacional de Bioeconomia. Essa iniciativa transforma biodiversidade em inovação, gerando emprego e justiça social - a sociobiodiversidade. Entretanto, para que esses avanços se consolidem, é essencial ajustar subsídios e incentivos econômicos, promovendo políticas alinhadas às metas ambientais e fortalecendo cadeias produtivas sustentáveis.
O setor empresarial, por sua vez, desempenha um papel fundamental. Investir em bioeconomia não é apenas uma estratégia de sustentabilidade, mas também uma vantagem competitiva. Certificações como Fair Trade e orgânicos, além de inovações em biocombustíveis e alimentação, conectam produtos a consumidores conscientes e fortalecem reputações.
À medida que nos aproximamos da COP30, que ocorrerá em Belém, o Brasil tem a oportunidade de assumir protagonismo global. A Amazônia pode se tornar um centro de soluções climáticas e sociais inovadoras, mostrando que crescimento econômico e sustentabilidade são, sim, compatíveis.
Valorizar a sociobiodiversidade é garantir um futuro equilibrado, onde natureza e cultura coexistem, e onde desenvolvimento econômico promove inclusão e justiça. É nesse caminho que precisamos trilhar, transformando desafios globais em oportunidades de mudança positiva.
Fernanda Dall’ Antonia é mestre em Desenvolvimento Social e Econômico pela Université Paris 1 Sorbonne, graduada em Economia e Relações Internacionais pela PUC-SP e gerente do Grupo +Unidos.
Conteúdo editado por: Jocelaine Santos