Você sabe o que é “ficar de mimimi”? Imagino que sim. Mas posso explicar: mimimi é o que todo mundo hoje faz porque se ofende fácil e exige algo em troca. Mimimi é derivado do ressentimento.
Mas existem dois tipos de mimimi. O do senso comum, “frescurinha básica” (não vou falar dele aqui); e existe o sofisticado, sustentado em alguma teoria besta derivada da maior picaretagem intelectual dos últimos 250 anos: refiro-me à famosa teoria picareta (que será comparada por nossos descendentes à leitura medieval de vísceras animais como mapa do futuro) segundo a qual o mundo está dividido entre opressores e oprimidos.
Quer um exemplo? Imagine que você dá seu lugar para uma mulher no metrô. Daí, aparece um cara e pergunta para você a razão de você fazer aquilo. Você explica que foi educado dessa forma. Deve-se dar o lugar para as mulheres. Aqui abrem-se várias linhas de argumentação mimimi, e todas elas poderiam ser sustentadas em aulas de Sociologia nas faculdades e nas escolas por aí.
Quando me convidam para um jantar onde estarão pessoas “críticas”, prefiro Netflix
A primeira, a do cara que te interpela, podemos chamar de novíssimo sintoma do mimimi geral que tomou conta de grande parte das ciências humanas dominadas pela teoria picareta descrita acima. Refiro-me ao novo espécime, “o machinho mimimi”. O carinha te pergunta, afinal de contas, por que as mulheres deveriam receber tratamento especial no metrô uma vez que todos ali são cidadãos iguais e que competem no mesmo mercado de trabalho.
Nosso machinho mimimi avançaria, então, na direção de que dar lugar para uma mulher, por ser simplesmente mulher, seria uma forma de discriminação contra os machinhos como ele, deixando, inclusive, que ela tivesse mais descanso do que eles, e fazendo dela, assim, uma competidora mais “descansada”.
Sei o que você está pensando: “Que mundo ridículo é esse que você está descrevendo hoje?” Mas sim: a “crítica social” fez das pessoas “críticas” seres meio ridículos mesmo, não? Quando me convidam para um jantar onde estarão pessoas “críticas”, prefiro Netflix.
Por trás da fala de nosso machinho mimimi está a ideia de que eles e elas têm o mesmo direito ao seu lugar no metrô.
E aí você tem a (super) infeliz ideia de dizer que as mulheres são mais frágeis e por isso precisam descansar mais no trajeto Santana-Paraíso do metrô. Nesse instante, salta uma menina de uns 20 anos, carregando nas mãos o livro O Segundo Sexo, da Beauvoir (uma Bíblia das mina mimimi), com olhos de fúria contra você. Como você pode ceder o lugar para aquela moça se você a oprime há séculos por meios que você nem imagina?! E a oprimirá sempre com presentinhos assim! E aí usa aquela palavra que, como “energia”, serve para tudo: “Seu machista!”
Aliás, a mina mimimi (que faz Sociais somewhere) diz mesmo que o ato de você dar o lugar para a moça (que aceitou, agradeceu e sorriu aquele sorriso doce que só uma mulher sabe dar, e que faz o dia de um cara ficar mais azul...) é um ato opressor porque, além de enganá-la com sua falsa bondade, era um presente por ela aceitar ser oprimida e ficar feliz com seu lugarzinho na linha azul do metrô.
A moça que aceitara seu lugar, coitada, que, apesar de não vir das classes abastadas, vestia-se muito melhor do que nossa furiosa das sociais (que andava de metrô por ser um ato político e não por necessidade) e era muito mais bonita e interessante do que a furiosa, começa a se sentir acuada pelo olhar inquisidor de sua “libertadora”.
Sendo a menina sentada mais bonita do que a outra, prontamente alguém indaga do fundo do vagão a razão de você ter cedido seu lugar justamente para uma mina que era gostosa e que usava uma calça um tanto justa.
Xeque-mate. Você tinha mesmo observado, antes de ceder seu lugar, que a beneficiária de sua oferta era a mais gatinha do vagão. De repente, todos discutem se seu ato era ou não um ato de opressão contra todos os outros passageiros do vagão. Ainda bem que chegou a sua estação, e que, por sorte, era a mesma da gatinha gostosinha. Seu mundo, pelo menos por enquanto, estava salvo da invasão zumbi.
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