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Dissipadas as nuvens rosa-choque que tingiram o céu durante a campanha – graças, em grande parte, à competência do marqueteiro-revelação de Lula, João Santana, e com a involuntária ajuda dos irresponsáveis pela chocha e medíocre propaganda do oposicionista, o sumido Geraldo Alckmin –, os solavancos da aterrissagem do Aerolula despertam a turma dos reeleitos para a realidade que invade a mídia com a exposição das suas mazelas e das omissões da desconjuntada máquina administrativa do governo vitorioso.

Antes de sair da estrada, convém deter o olhar no estado da rede rodoviária, que assustou o candidato com a denúncia da calamidade da buraqueira de três anos e meses de abandono. De olho no voto, o governo deflagrou a Operação Tapa-buraco. Como o apelido indica, manobra de emergência sem compromisso com a seriedade. Pois, ao voltar da temporada de descanso com a família e agregados, no total de 28 felizardos, na praia privativa da Marinha no litoral baiano, Lula, não se sabe o que viu nas asas do Aerolula, manifestou o terror por novo apagão nas rodovias no período de férias escolares e convocou o ministro dos Transportes, Paulo Sérgio de Oliveira Passos, para recomendar urgência no mutirão para a recuperação da malha rodoviária, antes que novo vexame acabe de estragar a festa.

Sou padecente de fim de semana nos cento e poucos quilômetros do Rio a Muri, distrito de Nova Friburgo, onde, há mais de 30 anos, procuro retardar os estragos da velhice. Deponho: a viagem de duas horas e alguns minutos, apesar das melhorias na RJ-116, graças à privatização, transformou-se numa provação com as incongruências do Detran. A sinalização dos limites de velocidade e a profusão caótica dos seus controles obrigam o motorista a uma tensa vigilância para não cair nas malhas espertas das multas, muitas de impropriedade absurda. E os buracos dão o ar de sua presença.

Com as baterias recarregadas pelos 58 milhões de votos e pelo sol baiano, o presidente Lula aproveitou a conversa com os novos assessores de fé para manifestar as suas preocupações com os entraves burocráticos e as exigências dos fiscais que entravam as obras de infra-estrutura, especialmente da construção de barragens das novas hidrelétricas, indispensáveis para evitar o risco de novo apagão. Dos 39 projetos de usinas hidrelétricas em execução, 39 estão paralisados por divergências com os Ministérios Públicos estaduais e com o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama).

Ora, nem de propósito, à noite de sábado último peguei, já iniciado, um surpreendente documentário na TV-Educativa, patrocinado pelos governos do Amazonas, do Pará e do Acre e pelo Ministério do Meio Ambiente da ministra Marina Silva exatamente sobre as encrencas com as empreiteiras que constroem barragens nos rios Tocantins e Solimões, espalham terror e miséria pela população ribeirinha e deixam um rastro de destruição de dimensões espantosas.

A TV-E está no dever de repetir a lição de jornalismo, de oportunidade única. As imagens são de uma beleza de arrepiar da floresta intocada, no jogo cambiante das cores e luzes. Mas o fundamental é que a produção deixou o povo falar. E a série de depoimentos é estarrecedora. Na linguagem simples, com a objetividade dos que vivem na carne o drama da violência e do desprezo das empresas estrangeiras que emplacaram as concorrências para a construção de dezenas de barragens, flui a denúncia que não tem desculpa e que junta a indignação contra os que derrubam áreas imensas e pela indiferença da omissão oficial. Mais de um milhão de ribeirinhos foram expulsos das terras ocupadas pelos ancestrais, em troca de indenizações miseráveis ou de nada, não sabem de que vão sobreviver. De médios e pequenos fazendeiros e sitiantes baixaram para a humilhação de ociosos, mendigos que enganam a fome com o Bolsa-Família.

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