Após o lastimável acidente ocorrido em Santa Maria e que comoveu a sociedade brasileira, ouço uma pergunta recorrente no consultório: somos assim tão vulneráveis? Será que todos os planos de uma vida podem em um segundo não significar nada? Esses e outros questionamentos vêm associados a situações de risco extremo, como acidentes, catástrofes naturais, assaltos e outras formas de violência urbana. Tais situações evidenciam a impotência humana e desconstroem a sensação de estabilidade que possuímos, causando um profundo sentimento de desamparo e desesperança na vida.
Quais são as possíveis consequências emocionais suscitadas em decorrência da exposição direta ou indireta a situações de risco? Durante a vivência de uma situação traumática, são esperadas reações emocionais intensas e crises. Entretanto, a percepção individual sobre a situação vivida, a capacidade de adaptação às mudanças e acompanhamento precoce auxiliam na prevenção de transtornos mais sérios que costumam surgir após um evento traumático.
Segundo a Classificação Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde, conhecida também como Classificação Internacional de Doenças (CID 10), o quadro de Reação Aguda ao Estresse (RAE) se caracteriza principalmente por medo, horror, ansiedade intensa, sentimentos de desconexão e irrealidade, ausência de resposta emocional e dificuldade para reconhecimento de ambiente. O RAE aparece poucas horas após a situação de risco e, se devidamente acompanhado, os sintomas diminuem significativamente ou desaparecem nos 30 dias seguintes.
No entanto, na falta de acompanhamento do RAE, o quadro pode evoluir para o Transtorno de Estresse Pós-Traumático (TEPT), que se caracteriza por sintomas semelhantes ao RAE, somados à revivência persistente do trauma por meio de lembranças, imagens, cheiros, sons e pesadelos. Também podem surgir medos exagerados, como medo de sair de casa ou de frequentar lugares públicos; sentimentos de depreciação da autoimagem; percepção negativa da vida; perda do interesse em atividades que antes eram prazerosas, irritabilidade e crises de choro.
Diversas pesquisas descrevem que os sintomas do TEPT podem ter duração curta (meses) ou prolongada (anos após o evento traumático), sendo comuns em profissionais que atuam constantemente em áreas de risco ou estresse, como serviços de emergência civis e militares. As pesquisas sugerem ainda que, ao receber apoio emocional e enfrentar a situação de crise, o indivíduo ativa seus próprios recursos, recuperando a estabilidade emocional.
Ao deparar-se com uma situação de risco que desencadeia uma crise, a pessoa descobre que seus efeitos nem sempre são apenas negativos. Este período, embora intenso, promove uma profunda reflexão sobre a vida e aumenta a capacidade de resiliência (flexibilidade e adaptação diante das mudanças), sendo considerado por muitos uma oportunidade de mudança significativa quanto à percepção da vida e uma oportunidade de renascimento.
Samarah Perszel de Freitas, psicóloga, é especialista em Neuropsicologia pelo Conselho Federal de Psicologia (CFP).
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