De minha frustrada e frustrante passagem pela Secretaria de Educação (1988-1989), extraí duas lições amargas, mas extremamente úteis. Primeira: a educação desfruta de um lugar privilegiado na retórica dos governantes e das elites brasileiras; e, segunda, essa retórica é, em grande parte, vazia de conteúdo e de determinação, pois frases grandiloquentes em relação ao papel da educação na promoção humana continuam a conviver com padrões indignos de qualidade na educação pública, sem que se faça realmente o mínimo essencial para alterar significativamente essa situação degradante.
A educação brasileira é, ainda, vitimada por uma combinação trágica de incompetência e de descaso: de políticos clientelistas que veem a escola pública como moeda de troca para seus favores e cobranças paroquiais; de educadores excessivamente politizados que, em vez de professar a pedagogia da oportunidade, baseada nos horizontes que seu trabalho abrirá para os estudantes, preferem inculcar neles a tal pedagogia do oprimido, que nada mais é que a destilação do ressentimento, da frustração e do "coitadinhismo"; de experts que são excelentes necropsistas e péssimos terapeutas, pois sabem tudo a respeito das mazelas reais ou supostas da escola atual, mas se mostram incapazes de propor concretamente as bases da escola ideal; de líderes trabalhistas e sindicais, prontos a justificar todos os absurdos em nome da corporação que representam; e de muitos professores e diretores que fogem de qualquer avaliação de desempenho como o diabo da cruz e o vampiro do alho.
Dessas lições frustrantes, idealizei, com apoio de Elizabeth e de um grupo de amigos obcecados pela educação de qualidade, o Centro de Educação João Paulo II, que recebeu seus primeiros 100 alunos em 26 de abril de 2010. Uma escola modelar, projetada por Manoel Coelho, com todos os recursos físicos e tecnológicos de uma escola de primeiro mundo, construída em Piraquara exclusivamente com recursos de doações privadas.
O João Paulo II nasceu com um propósito simples: queríamos criar uma escola para a qual não tivéssemos hesitação em mandar nossos próprios filhos e netos; que os dotasse do domínio da língua materna, da aritmética, das ciências básicas e da lógica; e que também propiciasse a experiência da socialização e do desenvolvimento de valores de respeito recíproco, de solidariedade, de compaixão, de amizade, de civismo. Em síntese, dos instrumentos básicos para apreender a realidade em que estão e estarão inseridos de modo a poder modificá-la para melhor.
Hoje, são 260 crianças e adolescentes matriculados na escola infantil em tempo integral e nos programas de contraturno oferecidos gratuitamente para alunos das escolas públicas da vizinhança. Os resultados da combinação entre o profissionalismo e o carinho de professores e funcionários, a competência de nossos parceiros institucionais, o engajamento das famílias dos alunos e a generosidade de nossos voluntários-apoiadores são entusiasmantes e podem ser vistos no site www.joaopaulosegundo.org.br. Ou então visitando o João Paulo II, onde os atuais voluntários-apoiadores poderão ver onde sua generosidade foi e está sendo empregada, e aqueles que ainda não o fizeram certamente encontrarão fortes razões para apoiá-lo também.
Belmiro Valverde Jobim Castor é presidente do Centro de Educação João Paulo II.