Um tema bastante polêmico nas Ciências Econômicas refere-se às expectativas dos agentes. Como elas se formam? Quais as variáveis relevantes? Qual o peso do comportamento passado na perspectiva do futuro e de ambos nas decisões do presente?
Em geral, as decisões econômicas (alocação de recursos escassos) mais relevantes em nossas vidas são decisões intertemporais, ou seja, que envolvem custos e benefícios ao longo do tempo e, portanto, dependem de expectativas. Por exemplo, quando compramos uma casa temos que decidir se iremos poupar recursos ao longo de um tempo para adquiri-la no futuro, ou se iremos recorrer a algum tipo de financiamento. Isso também ocorre na compra de um automóvel, de eletrodomésticos, móveis ou até mesmo uma viagem.
Empresários e funcionários de empresas tomam decisões a respeito dos investimentos e do processo de produção com base em suas expectativas. Aumentar ou não a capacidade de produção de uma fábrica? Aumentar ou diminuir a quantidade produzida de um determinado bem? Lançar ou não um novo produto? São decisões difíceis, pois envolvem custos e benefícios ao longo do tempo.
Uma forma simplificada de tratar esta questão é partindo-se da suposição de que os agentes buscam as informações disponíveis, considerando o custo de obtê-las, para tomar suas decisões, procurando alcançar o máximo de bem estar econômico em cada uma delas.
A diferença com relação às demais opções de ativos é que o mercado financeiro tende a ser mais rápido em dar respostas às mudanças de ânimo. Você pode ter todos os recursos aplicados no setor de alimentos pela manhã e terminar a tarde como credor do governo, através da compra de títulos públicos, o que potencializa o papel das expectativas nesses mercados.
O problema é que às vezes, no anseio de se antecipar aos acontecimentos futuros para tomar decisões no presente que venham a ser a melhor possível, os agentes supervalorizam informações corriqueiras e diante da falta de outras informações preferem seguir o fluxo, dentro da lógica de que "é melhor errar com os outros, do que sozinho". Problemas relacionados à assimetria e falta de informações, capacidade limitada dos agentes em processá-las e a incerteza propriamente dita com relação ao futuro, tendem a gerar freqüentemente crises no mercado financeiro.
Muitas vezes os agentes que estão envolvidos no processo se deparam com uma redução do grau de liberdade de decisão, cabendo-lhes simplesmente minimizar o risco das perdas, o que leva a perdas em termos agregado. A economia tem se utilizado muito do instrumental da Teoria dos Jogos, já há algum tempo, para compreender esses fenômenos.
Porém, essas crises por vezes são importantes para lembrar aos marinheiros de primeira viagem, e também os capitães já acostumados com o vendaval do mercado de capitais, que existem riscos envolvidos em aplicações financeiras, advindos da incerteza. Às vezes, quando o índice da bolsa de valores fecha o ano com um valor muito atrativo, a exemplo dos anos recentes, aquele indivíduo que deixou o seu recurso financeiro aplicado num fundo de investimentos com renda fixa, tende a ficar desolado. Não se trata de um estímulo ao comportamento conservador, mas sim, uma forte sinalização de que uma aplicação de risco envolve possibilidade de ganhos e de perdas. Apesar de óbvio, às vezes um rendimento de 60% ao ano de uma ação ou de uma carteira de ações faz com que muitas pessoas esqueçam ou atribuam um peso menor do que deveriam para os riscos envolvidos.
De qualquer forma, para aqueles que mantêm um volume de recursos relativamente baixo (mas que lhes custaram muitas horas de trabalho) em fundos de investimento de maior risco, e que em geral, não dispõe de tempo para acompanhar o comportamento do mercado, agora é hora de sangue frio. A opção por esses ativos, na maior parte das vezes, tem se apresentado atrativa no longo prazo. Ou seja, historicamente essas perdas têm sido mais do que compensadas em algum momento, é preciso ter paciência. Marcio José Vargas da Cruz é professor do Departamento de Economia da Universidade Federal do Paraná.
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