Sustentabilidade. Não é incomum que esta palavra cruze o cotidiano das pessoas ao menos uma ou duas vezes por semana, seja em notícias da imprensa, nas reuniões profissionais ou em documentários. No entanto, consumir informações sobre este tema não está necessariamente atrelado ao ato de tomar a consciência da sua essencialidade. Partimos do pressuposto de que uma parte significativa das pessoas compreendem, por exemplo, a importância de evitar o consumo dos plásticos de uso único (aqueles utilizados e descartados imediatamente), no entanto repetem o uso em seus cotidianos, através de garrafas, embalagens de delivery etc. E é neste ponto que na função da escola se faz cada vez mais urgente a necessidade de inserir no currículo obrigatório práticas sustentáveis e reflexões sobre como as atitudes individuais podem impactar e definir o futuro da vida no Planeta Terra.
Um relatório divulgado pela Comissão Lancet sobre Poluição e Saúde publicado na revista científica The Lancet Planetary Health, constatou que em 2019, nove milhões de pessoas morreram por conta da poluição. Isso significa que, uma em cada seis mortes em todo o mundo ocorreu em decorrência disso, e a inexistência da educação ambiental formal, pode ser sim, uma das causas deste descontrole que assola o Planeta Terra.
As atitudes em sala de aula vão contribuir para a formação de cidadãos mais conscientes em suas ocupações.
Mas por que a educação nas escolas pode ter mais efeito do que um conteúdo produzido para adultos? O motivo está tanto na função social de uma instituição de ensino, quanto na receptividade de crianças e adolescentes para aprender algo novo. Sobre a função da escola na sociedade, é importante lembrar o que diz a Lei de Diretrizes e Bases da Educação, de 1996. Um dos trechos do artigo 27, fala que os conteúdos curriculares devem seguir "a difusão de valores fundamentais ao interesse social, aos direitos e deveres dos cidadãos, de respeito ao bem comum e à ordem democrática", o que corrobora com o fato de que se o Estado deve garantir a educação integral, o pensamento crítico das crianças e jovens, necessita com urgência ser aprimorado naquilo em que o ser humano preza como prioridade: a vida.
A respeito da facilidade de jovens aprenderem mais do que adultos, ainda que isso seja uma percepção do senso comum, uma pesquisa da Universidade de Brown, nos Estados Unidos, mostrou que em crianças entre 8 e 11 anos a atuação do neurotransmissor chamado ácido gama-aminobutírico (GABA) é mais forte e evidente do que em adultos. Ou seja, no estudo, as crianças nessa faixa etária tiveram mais facilidade de aprendizado.
Dessa forma, podemos e devemos unir esses dois fatores para aprofundar o ensino sobre a sustentabilidade na educação básica. Escolher ensinar sobre sustentabilidade na escola é fundamental porque a criança é um ser único e aberto para novas aprendizagens. A conscientização a respeito deste tema na maturidade pode e deve ocorrer de fato. Contudo, geralmente os adultos estão com a rotina atribulada demais para enxergarem que o tema não é uma escolha. Pelo contrário, é aquilo que devemos levar em conta se quisermos parar a degradação do planeta e ter nos próximos anos uma perspectiva mais positiva sobre nosso futuro.
Somente faremos com que nossas crianças e adolescentes se apropriem disso se começarmos hoje conscientizando-as que não se mistura resto de feijão com lata. Para tanto, o tema de sustentabilidade deve permear todo o currículo do ensino básico. Ainda que não seja uma disciplina como português, redação, matemática ou geografia, trata-se de um tema que precisa ser praticado de forma interdisciplinar. O currículo escolar precisa dar a devida importância sobre o tema, da mesma forma como valorizamos os ensinos das disciplinas tradicionais.
Não nos cabe aqui neste ponto, enquanto educadores, a intenção de reduzir a importância de determinados conteúdos. Todos são necessários para a formação do aluno como cidadão. Mas não podemos negar que qualquer disciplina precisa contribuir para questões reais e não podem estar fechadas em suas teorias. É mais provável que um aluno aprenda como o consumo consciente, alimentação saudável e economia circular poderão salvar mais vidas do que somente se aprender expressões numéricas de forma isolada. A ideia não é defender quem é mais relevante, e sim igualar o brado que se dá aos dois conteúdos e, principalmente, compreender que a ideia na escola é que temas se culminam.
As atitudes em sala de aula vão contribuir para a formação de cidadãos mais conscientes em suas ocupações. Problemas que hoje enfrentamos como emissão de carbono por parte das indústrias, a falta de políticas públicas para combater a devastação ambiental e o uso inconsequente dos recursos naturais podem, aos poucos, ser superados com esses alunos que se tornarão adultos conscientes de seu papel nessa mudança de atitudes.
Já tivemos em nossa história pessoas pioneiras em pesquisas científicas que quase dobraram a expectativa de vida do ser humano nos últimos cinquenta anos, e isso é louvável. Agora precisamos de outros protagonistas que consigam encontrar formas e pesquisas para fazer com que estas pessoas que estão vivendo mais, de fato, vivam de forma mais sustentável e deem sobrevida ao planeta.
Carolina Paschoal é pedagoga e diretora da Escola Pedro Apóstolo.
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