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Tabaco: redução de danos, uma questão não debatida

(Foto: Pixabay)

O tabagismo continua sendo a principal causa de risco evitável de doença e morte. Apesar de todas as campanhas e leis, estima-se que em 2025 haverá cerca de 1 bilhão de tabagistas no mundo, muitos dos quais estarão no Brasil.

Trabalhando como médico pneumologista, em clínica de apoio e tratamento a pessoas que desejam parar de fumar, sentimos a dimensão do desafio destes números e das consequências à saúde destas pessoas.

Em nossa rotina de trabalho, encontramos o cigarro como um importante causador de doenças respiratórias e, a cada paciente que fuma, um desafio em relação a orientar e conseguir que este deixe de fumar.

No entanto, muitas vezes, por inúmeros fatores, o paciente não consegue abandonar o vício ou simplesmente diz que não quer parar de fumar, apesar de todas as recomendações em sucessivas consultas.

Hoje ficamos restritos ao dilema entre fumar ou não fumar, deixando milhares de pacientes sem uma opção intermediária

Os pacientes que não querem parar de fumar precisam ser orientados. A American Cancer Society publicou em junho de 2018 algumas recomendações de estratégias para restringir o consumo de cigarros e, quando não for possível, reduzir a exposição aos pacientes. Entre estas estratégias está a substituição dos cigarros tradicionais por vaporizadores ou pelo tabaco aquecido.

Com modelos diferentes, Portugal e Estados Unidos são exemplos de países que estão à frente da liberação desses dispositivos e até de novos medicamentos que entreguem nicotina para as pessoas que precisam parar de fumar.

Inspirados nessas experiências, pesquisadores brasileiros têm tentado fomentar o debate da redução de danos a partir de alternativas que não proíbam ou gerem abstinência, mas que passem por uma regulamentação mais rigorosa e por soluções criativas.

Devemos considerar e avaliar tecnologias mais recentes, que poderiam ser aplicadas a tais situações com o objetivo de reduzir os riscos à saúde. Trata-se de mecanismos que podem suprir a sensação da abstinência à nicotina deste grupo de pacientes e produzir riscos menores que aqueles advindos do consumo dos cigarros tradicionais.

Sabe-se que a nicotina do cigarro tem função de gerar a dependência, mas não é ela a responsável por produzir as principais doenças que são, em sua maioria, liberadas no processo de queima das folhas de tabaco em elevadas temperaturas.

Tais mecanismos produzem um aerossol (sem fumaça) a partir do aquecimento de fluidos contendo nicotina ou a partir do aquecimento do tabaco a uma temperatura que não gera combustão. Desta forma há a redução da liberação das principais substâncias tóxicas contidas na fumaça do cigarro em cerca de 80%, sem liberação de monóxido de carbono, beneficiando familiares que deixam de ser fumantes passivos.

Liberados em muitos países desenvolvidos como Inglaterra, Canadá, Japão e, recentemente, Estados Unidos (pela Food and Drug Administration, FDA), no Brasil eles foram proibidos pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), o que abriu espaço a uma perigosa desregulamentação. Por estarmos na contramão do mundo, o nicho é hoje ocupado por empresas de fundo de quintal ou de e-commerce que fornecem vaporizadores e líquidos produzidos sem qualquer controle de qualidade governamental, colocando em risco a saúde dos consumidores.

Note que estes produtos devem ser direcionados para pessoas que, apesar de todos os esforços, se recusam a parar de fumar ou que, apesar de inúmeras tentativas, não conseguem fazê-lo.

Hoje ficamos restritos ao dilema entre fumar ou não fumar, deixando milhares de pacientes sem uma opção intermediária.

Sempre é importante falar sobre tabagismo com os pacientes. O médico precisa avaliar o grau de motivação e traçar qual a melhor estratégia para cada um deles, e a redução de danos deve fazer parte dessas opções.

Esta questão necessita ser regulamentada, permitindo que uma grande parcela da população – atualmente o Brasil tem mais de 20 milhões de fumantes – possa ter acesso a uma terceira possibilidade, beneficiando usuários e familiares.

Rodolfo Fred Behrsin é médico pneumologista e professor adjunto da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio).

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