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Tanta medicação?

Nos últimos dez anos, a utilização do medicamento Ritalina aumentou 775%, nada menos. Fármaco de muitos usos – um dos principais é o tratamento do Transtorno de Déficit de Atenção e/ou Hiperatividade (TDAH) em crianças e jovens –, infelizmente, em muitos casos, é usado de forma inadequada, até mesmo irresponsável, sem a indispensável intervenção e controle médico.

O TDAH é considerado síndrome comportamental, mas pode incluir uma lesão cerebral mínima. Seu diagnóstico deve ser cuidadosamente realizado e o tratamento deve receber acompanhamento especializado. Além das sérias questões envolvendo o possível impacto de tanta medicação em organismos ainda em formação, existe a probabilidade de distúrbios psiquiátricos, do sistema nervoso (que pode chegar até à convulsão), cardíacos, gastrointestinais, urticárias, queda de cabelo, pequeno retardamento no crescimento e muitas outras reações adversas, que indicam claramente a necessidade de tratamento amplo, nele incluído o psicológico e também o nutricional, já que não raramente a medicação provoca patologias também nestas áreas.

A evolução das ciências da saúde possibilita a grande parte da humanidade gozar condições de bem-estar físico e mental que não seriam possíveis há pouco tempo. No entanto, parecemos ter perdido a capacidade de enfrentar dissabores normais da vida, como frustrações, tristezas e perdas, sem recorrer a medicamentos "sedativos", que parecem disfarçar as dores, mas não as eliminam.

Cabe também uma reflexão sobre as pessoas em formação escolar infantil ou juvenil que apresentam as chamadas dificuldades de aprendizagem – desatenções, agitação ou incapacidade de concentração – e que são apressadamente classificadas, às vezes por leigos, como portadoras de algum distúrbio psiconeurológico, recebendo remédios desnecessários, os quais apresentam efeitos colaterais perigosos e/ou provocam dependência. O contrário também acontece: adolescentes extremamente necessitados de cuidados médicos são taxados de difíceis ou rebeldes, e abandonados à própria sorte – mostrando que identificar o problema não significa realizar um bom diagnóstico, atividade exclusiva de profissionais.

O que chamamos de dificuldades de aprendizagem abrange um largo espectro de ocorrências dentro de um grupo heterogêneo de desordens durante a fase escolar, da aquisição e uso da fala, da audição, leitura ou escrita, envolvendo desde as deficiências mentais ou sensoriais, alterações emocionais passageiras ou graves, diferenças socioculturais, ou mesmo a simples ausência de oportunidades educativas.

Assim, embora frequentemente a escola alerte para o problema, como inexiste um teste diagnóstico específico, as famílias precisam estar atentas à necessidade de, além do aspecto educacional, levar em conta o neuropsicológico; afinal, estimulantes não são adequados a todos os tipos de jovens, principalmente aqueles em situações de violência.

A resolução será atingida no longo prazo e a assistência parental é fundamental. Sabe-se hoje que muitos dos problemas podem ter sua origem nas lacunas de contato entre familiares e crianças – e isso certamente não se resolve com remédios.

Wanda Camargo, educadora, é assessora da presidência das Faculdades Integradas do Brasil (UniBrasil).

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