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Taxa Selic, crescimento e falta de planejamento

A projeção de que a taxa de juros continue subindo e chegue a 9,50% até o fim do ano não agrada especialistas de nenhum setor, pois isso significa frear novamente o crescimento econômico brasileiro. A alta da Selic é a principal medida adotada pelo governo federal para tentar conter a inflação, que está muito próxima do teto da meta do Banco Central (6,5% ao ano). Essa continua sendo uma ação paliativa da política monetária para que a inflação fique dentro da meta, o que na prática só arrasta o problema adiante. Se a Selic sobe, o crédito fica mais escasso, prejudicando o consumo e, consequentemente, a expansão da economia brasileira.

Essas intervenções constantes na taxa Selic não seriam necessárias se o governo cortasse parte dos gastos públicos. Hoje temos uma máquina pública inflada com 39 ministérios, centenas de secretarias e milhares de contratações dispensáveis. Portanto, o governo poderia utilizar outras medidas mais eficazes, como uma política fiscal mais rigorosa, que reduziria a infinidade de gastos desnecessários e evitaria o aumento do déficit brasileiro. Infelizmente, quando o assunto é controlar a inflação, o governo prefere sacrificar o Produto Interno Bruto a abrir mão da manutenção estatal.

É inadmissível que em um país como o Brasil, com grande potencial de crescimento, a população ainda tenha de arcar com uma das maiores taxas de juros do mundo e com uma altíssima carga tributária. Isso também influencia a maneira como as empresas reagem à política monetária. O custo do crédito elevado inibe a atividade produtiva. Isso resulta em empresas brasileiras menos competitivas, que ficam em desvantagem perante as estrangeiras, já que o custo para investir em produtividade e tecnologia fica mais alto para as companhias nacionais. Além disso, os investidores se sentem menos atraídos em alocar recursos em atividades empreendedoras.

Se as despesas do governo fossem controladas, talvez finalmente fosse possível realizar uma reforma tributária que desonerasse as pesadas cargas tributárias, contribuindo com o crescimento das empresas brasileiras. O cidadão está cansado de arcar com o chamado "custo Brasil" e não ter nenhum retorno efetivo – e ainda ter de acompanhar os inúmeros casos de corrupção. A arrecadação aumenta a cada ano e o país continua sem investimentos suficientes em infraestrutura, saúde, educação e segurança.

Além disso, a constante desvalorização do real e o aumento do dólar, que também contribuem para o aumento da inflação, motivam as indústrias a escoar a produção para o mercado externo, diminuindo a oferta interna de produtos. O resultado não pode ser outro: o aumento de preços no mercado brasileiro. Com todos esses problemas, é fácil perceber como o governo brasileiro está desorientado e agindo sem planejamento para controlar a alta inflacionária; por isso chegamos a esse patamar. Se nada for feito de maneira efetiva e planejada, continuaremos sempre apagando incêndios.

Cassio Prestes, especialista em Finanças, é diretor da Gavea Sul FIDC.

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