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Nos últimos anos, o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) ganhou uma enorme visibilidade, em grande parte devido à proliferação de autodiagnósticos na internet. Tornou-se comum ainda nos depararmos com pais que, mesmo sem um diagnóstico confirmado pelo médico, atribuem as dificuldades escolares de seus filhos ao TDAH. Mas será realmente correto classificar o TDAH como um transtorno de aprendizagem?

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A resposta correta é: não. Entretanto, qualquer transtorno, se não tratado, pode ter um impacto significativo na vida escolar de uma criança, podendo estender-se até a vida adulta. Ou seja, embora o TDAH não seja classificado como um transtorno de aprendizagem, sua influência na aprendizagem é indireta, uma vez que se trata de um transtorno atencional, frequentemente associado à hiperatividade, que resulta em flutuações na capacidade de concentração das crianças.

O cérebro humano possui uma incrível capacidade de neuroplasticidade, que permite a adaptação em situações desafiadoras.

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Os transtornos diretamente ligados a aprendizagem são a dislexia, relacionada aos processamentos linguísticos e à leitura; a disortografia, caracterizada pela dificuldade na aplicação das regras ortográficas; a disgrafia, que afeta a habilidade de escrever de maneira clara e organizada; e a discalculia, relacionada ao processamento numérico e raciocínio matemático. Mas para ficar ainda mais claro esse assunto, é preciso ainda distinguir as dificuldades de aprendizagem dos transtornos de aprendizagem.

As dificuldades geralmente se manifestam de forma pontual, com um início e um fim determinados por eventos específicos, como mudanças de escola ou problemas familiares. Nessas situações, um suporte adicional na forma de aulas de reforço ou acompanhamento pedagógico pode ser suficiente para superar o obstáculo.

Por outro lado, os transtornos de aprendizagem têm uma origem neurobiológica, ou seja, a criança já apresenta essa disfunção desde as fases iniciais da vida, antes mesmo de frequentar a escola. Por exemplo, no caso da discalculia, a criança pode ter dificuldade em compreender conceitos básicos de matemática, como a soma de 2 +2, e se não receber tratamento adequado, isso pode afetar suas habilidades na vida adulta, como a capacidade de lidar com transações financeiras simples. Esses casos exigem investigação neuropsicológica e intervenção para desbloquear habilidades específicas.

O cérebro humano possui uma incrível capacidade de neuroplasticidade, que permite a adaptação em situações desafiadoras. Por exemplo, a capacidade de ler um texto com letras e números misturados é resultado dessa plasticidade cerebral, que organiza e interpreta informações de forma eficaz. No entanto, para crianças com transtornos de aprendizagem, essa característica precisa ser estimulada.

O diagnóstico de um transtorno de aprendizagem envolve uma análise detalhada, que inclui entrevistas com todas as partes envolvidas, desde a própria criança até os pais e professores, seguida pela aplicação de testes psicológicos e de rastreamento para avaliar o nível de dificuldade em relação ao esperado para o desenvolvimento típico. Somente com base em evidências científicas sólidas é possível encaminhar a criança para um tratamento adequado que permita superar os desafios do transtorno.

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Vale ressaltar que a vida plena é uma realidade para crianças e adultos com ou sem dificuldade ou transtorno de aprendizagem. Com o suporte adequado, incluindo intervenções educacionais personalizadas, terapia e apoio psicológico, indivíduos com essas desordens podem desenvolver estratégias eficazes para lidar com seus desafios e alcançar sucesso em diversas áreas da vida. Além disso, a conscientização e o entendimento da comunidade são fundamentais para promover a inclusão e eliminar estigmas, permitindo que todos tenham a oportunidade de alcançar seu pleno potencial.

Ana Carla Silvestre Sangineto é neuropsicóloga parceira da Docway.

Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]