A ideia mais potente quanto à questão proposta e aos desafios lançados para a escola, no meu entendimento, é defendida e sempre bem demarcada nos diferentes textos e falas da professora e pesquisadora Lucia Santaella: “tecnologias que importam para a educação são tecnologias de linguagem”.
A comunicação já não depende dos diferentes suportes que conhecemos há tempos, como o papel, o rádio, a televisão. Com outra “roupagem” e com uma identidade própria, o digital criou uma nova linguagem humana que, segundo Santaella (2010), mistura o visual, o verbal e o sonoro.
Neste contexto, as maiores mudanças na educação não foram trazidas pela televisão, nem mesmo pelo rádio – importantes meios de comunicação que alteraram o modo de vida das pessoas –, e sim pela cultura do computador, que a partir de 1990 ganhou espaço na vida da sociedade em geral, forçando, inclusive, um novo modelo de aula.
As crianças de nossas escolas, antes mesmo de conhecerem as letras do alfabeto, tocam perfeitamente as telas de dispositivos móveis
É muito interessante observar que o computador supera uma escrita linear, estática e previsível. Ele permite que, a partir do clique nos links, acessemos os hipertextos, absorvendo e possibilitando a mistura de diversos tipos de linguagens humanas, de imagens e até de sons, como as músicas, as falas, os ruídos. Isso tudo implica transformações cognitivas muito importantes e, para nós, professores da educação básica, ainda não tão bem conhecidas e estudadas.
É neste compasso e descompasso da irreversível entrada das tecnologias nos diferentes espaços de aprendizagem da escola que hoje nos encontramos. Como podemos usar as tecnologias cada vez mais em favor de aprendizagens mais significativas? Como reinventar o modelo escolar vigente, no qual ainda é possível admitir grandes quantidades de atividades impressas? Como sair da “aula dada” e chegar a outros modos em que as didáticas fomentem novos processos cognitivos?
Os espaços de formação – sejam eles nos cursos de licenciatura ou nos momentos que todas as escolas devem garantir para estudos no próprio espaço educacional – são estratégicos. Garantem relevantes discussões acerca das tecnologias de linguagem, estabelecem momentos de leituras, estudos, discussões, e ainda permitem trocas de experiências, enriquecendo, assim, as práticas docentes.
O que cabe, então, às escolas? Cabe compreender que as crianças de nossas escolas, antes mesmo de conhecerem as letras do alfabeto, tocam perfeitamente as telas de dispositivos móveis e que essa juventude navega rapidamente pelas redes sociais, utilizando apenas as pontas dos polegares, mesmo que não estejam presentes diálogos orais.
Cabem projetos bem planejados, sérios e que envolvam toda a comunidade escolar. Cabem, ainda, incentivos e apoio para espaços de encontro e partilha em seminários, congressos, cursos e grupos de estudos para abrir espaço de discussão e trocas com pesquisadores e educadores interessados em aprender e qualificar seu olhar, sua aula, seus planos de ensino.
Cabe, agora e sempre, o desejo de fazer diferente. Cabe criar uma cultura de inclusão e não de exclusão ou competitividade entre os diferentes atores, sujeitos e objetos da aprendizagem: o livro, o computador, o professor, o aluno...