Iniciamos hoje o tempo do Advento. Essa palavra é usada em muitos sentidos. Para os pagãos indicava a "vinda" do seu deus: em determinado dia do ano, expunham ao culto a sua estátua, com a convicção que se faria presente entre os seus fiéis, disposto a distribuir bênçãos e conceder benefícios. A palavra advento pode também significar a visita de um rei ou o dia da coroação do soberano.
Os cristãos tomaram todas essas acepções e as aplicaram a "vinda" do seu Deus, que se manifestou ao mundo em Cristo. Reservaram, porém, a palavra "advento" ao período da preparação para esta visita. A esta altura alguém poderia, com razão, perguntar: mas Jesus já veio? Por que então preparar-se como se tivesse que vir outra vez?
O Natal é somente uma festa de fim de ano e o Advento é o tempo para prepará-la, comprando alimentos, bebidas, convidando amigos, cantando e dançando. Não. O Advento não é isso. Os pagãos é que se preparavam assim para a festa do "nascimento do sol". Os cristãos também festejam, se alegram, dançam no dia de Natal, mas não é este o aspecto principal.
A palavra de Deus que nos acompanhará nos próximos domingos nos ensina que Jesus não veio somente uma vez. Ele continua vindo. Vem e está presente nos acontecimentos felizes ou tristes da nossa vida; vem e está presente naqueles que difundem ideias novas, que falam palavras de amor, de paz, de reconciliação, naqueles que se esforçam para construir um mundo novo.
Jesus vem, continua vindo, mas estamos nós preparados para reconhecê-lo? Sabemos identificar sua presença em todos os acontecimentos da vida? Não temos frequentemente medo que sua mensagem nos desestabilize, que exija uma transformação por demais radical dos nossos hábitos? Não preferimos muitas vezes fechar os olhos e os ouvidos?
É tão necessário que Jesus venha! Onde? Eis alguns exemplos: alguém fica bêbado e começa a falar bobagens, ofende, torna-se violento com os amigos, em seguida volta para casa, bate na mulher e nos filhos... Bem! Dizei vós mesmos se Jesus chegou ao coração desse homem. Ou então, pensai num jovem, que não estuda, repete dois ou três anos seguidos, é malandro, aproveita das festas para abusar das moças... Neste jovem, estará Jesus presente ou será necessário fazer alguma coisa para preparar sua vinda? E numa comunidade cristã cujos membros são invejosos, estão desunidos, falam mal uns dos outros, não se auxiliam... chegou Jesus? E num país onde os cidadãos se matam, onde há guerras, violências, ódios, raiva, vinganças... Chegou Jesus? Não, não chegou.
Quando o Senhor chega, penetra com sua palavra no coração do homem como "espada de dois gumes" altera os seus projetos, solapa as relações sociais fundadas na competição, no esmagamento, no arrivismo, na esperteza, questiona todas as estruturas que geram injustiças, injúria, violência. Por isso nos assusta.
As leituras do Advento nos convidam à vigilância, a conservar os olhos abertos para descobrir e preparar os caminhos que Jesus escolheu para vir libertar-nos de todos os males, nos quais buscamos a felicidade. Todas as leituras deste domingo contêm, como tema central, a vigilância, entendida, como vimos, não no sentido de uma espera angustiante do Senhor, juiz no fim de nossa vida, mas como atenção para a vinda do Senhor, hoje. O Evangelho nos recomenda a vigilância para saber reconhecê-lo na hora da sua "chegada"!
Deixe sua opinião