Os eleitores mais esclarecidos consideram o debate uma fonte diferenciada de informações. Ao apreciar os prós e contras dos candidatos, num cenário de discussão, fundamenta-se melhor a decisão do voto. E a troca de idéias sobre as eleições, nos ambientes sociais, passa a tomar como referência esse momento incomum da campanha. Pesquisas quantitativas revelam a ampliação do interesse por esse tipo de evento até mesmo pelos eleitores que não o assistem, mas procuram saber posteriormente do desempenho dos participantes.
Ao contrário da propaganda previamente elaborada, cada vez mais similar em termos de linguagem e propostas, o eleitor tende a valorizar o conteúdo exclusivo apresentado nessas ocasiões. Num debate de bom nível o jargão publicitário é superado e os slogans desaparecem, abrindo-se a possibilidade de aprofundamento dos temas. Como a premeditação não faz parte desse jogo de conhecimento, não são bem vistas as anotações e os assessores, usados para apoio das partes em disputa.
O atrativo do debate é a chance de observação, ao vivo e em tempo real, dos candidatos atuando sem filtros e espontaneamente. É como se fosse um laboratório onde os pretendentes viram cobaias de questionadores, expondo mutuamente seus limites, mostrando como respondem aos estímulos e reagem às pressões imprevisíveis. Para os eleitores atentos às exteriorizações, são desvendados traços de personalidade por meio da linguagem do corpo, posição das mãos, velocidade dos gestos e troca de olhares.
Quando e como levantar aspectos negativos, no transcorrer do debate, é uma discussão entre os profissionais do marketing político que se repete a cada campanha. Muitos eleitores não apreciam essa dimensão das campanhas eleitorais. O que atrapalha a decisão de combater, ou não, duramente o adversário, com semblantes ou palavras ásperas se necessário, é a existência de dois tipos de audiência, onde se aninham votantes indecisos. De um lado, eleitores que entendem esse acontecimento como um entretenimento, um show de luta-livre, onde um dos candidatos deve necessariamente cair nocauteado. De outro, pessoas propensas a buscar informação singular e analisar melhor os candidatos, e que não apreciam excesso de drama ou a perda de controle emocional dos concorrentes.
Quanto mais debates melhor, dizem os eleitores, sendo o último o mais importante, como ficou demonstrado no primeiro turno. No caso nacional, a omissão de Lula coincidiu com os ataques verbais dos presidenciáveis presentes, trazendo-lhe um desgaste maior. A ausência prejudica a decisão do eleitor e pode sinalizar desprezo ou alguma fragilidade do faltante.
No Paraná, o debate final do primeiro turno acabou por não definir o líder mais forte. O candidato deve estar ciente de que tem de sair de uma confrontação com a questão da liderança "resolvida". Contribui, para isso, a capacidade de debater. Sem ela, os atributos positivos não ficam evidenciados.
Percebeu-se no primeiro encontro do novo turno que Lula, embora visto como um bom orador, não foi um debatedor eficiente. Alckmin poderia ser um melhor debatedor não fosse o fato de falar esquematicamente, como se estivesse redigindo um telegrama ou títulos de matérias de jornal. Debater é a arte de dominar os temas, na profundidade e na extensão, revelar qualidades, diferenciar-se em relação ao adversário e administrar pressões, que são medidas de liderança.
É inegável que o debate passou a ser um instrumento indispensável de modernização da comunicação eleitoral e um recurso democrático de exposição dos candidatos. Mas estes precisam aprender a debater melhor e a audiência deve ser estimulada a ouvir e a participar mais. O debate, em si, também precisa ser aperfeiçoado: no seu formato, principalmente no tempo para exposição de idéias, na divulgação, ainda precária, e no horário, nem sempre acessível para a audiência que dorme cedo.
Rogério Bonilha é sociólogo e diretor-presidente do Instituto Bonilha de Pesquisa de Opinião e Mercado.
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