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Deu certo uma vez, logo dará certo sempre. O ser humano tende ao menor esforço: copiar situações ou duplicar soluções costuma ser sua primeira opção ao enfrentar um problema. Karl Marx fez a sua famosa advertência sobre o perigo das repetições e farsas, mas raros são os marxistas ou antimarxistas que o levam a sério. Pelo menos nessa questão.

Quando no fim do ano passado o go verno antecipou a campanha sucessória consumando a candidatura da presidente Dilma Rousseff, pareceu a todos um gambito de mestre. Deu certo uma vez, fatalmente daria certo segunda vez. Sobretudo, diante dos formidáveis índices de aprovação produzidos pelas sondagens eleitorais.

Um semestre depois, mantida a invejável base de apoio junto à sociedade, a hipótese de vitória no primeiro turno parece questionável. A opção pelo repeteco, expressa com tanta disposição e antecipação, funcionou ao revés: não desestimulou nem inibiu resistências, ao contrário, injetou altas doses de adrenalina no quadro político e ainda teve o dom de despolarizar o tradicional confronto com a oposição criando nuances desconfortáveis para o situacionismo.

As possíveis candidaturas de Eduardo Campos pelo PSB e Marina Silva pela Rede Sustentabilidade, as movimentações visando à formação de novos partidos ou coligações, e até a possibilidade de um cisma no PSDB realinhando seus remanescentes social-democratas, são dados concretos. E a partir deles, criam-se dinâmicas imprevisíveis.

O tabuleiro que se imaginava armado, consolidado, intocável, parece tão instável e criativo como em 1989. Com uma desvantagem adicional para os que apostavam num fac-símile sumário de 2010: a fadiga do material.

O exercício do poder produziu um enorme desgaste não apenas no partido dominante, o PT, mas também na sua principal base apoio, o PMDB, um mastodonte encanecido, manco, desdentado, cuja principal arma – ainda não exibida plenamente – pode ser a sua capacidade de surpreender.

Os imponderáveis na esfera econômica são ainda mais preocupantes porque independem do voluntarismo e arbítrio político, mas podem influir decisivamente no ânimo e na arrumação das forças que disputarão o pleito de 2014. A aposta na infalibilidade de grandes eventos esportivos internacionais foi arriscada. De costas para o mundo, não conseguimos avaliar a dimensão do vexame produzido pelo afastamento do supercartola João Havelange da presidência honorária da Fifa, acusado formalmente de corrupção junto com o ex-genro, Ricardo Teixeira. São pessoas físicas, mas representaram o desporto nacional, parceiros e beneficiários do poder ao longo de décadas. Principalmente a última.

A repetição pressupõe apatia dos contrários. Às vezes – como agora – serve como provocação. E estímulo para superações.

Alberto Dines é jornalista.

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