A questão da qualidade do ensino e aprendizagem tem sido objeto de muita reflexão no meio educacional brasileiro nas últimas décadas. A aquisição da qualidade não pode ser pensada de forma imediatista, pois não é algo simples, que possa ser explicado somente por meio de uma variável ou até mesmo por um conjunto delas (laboratórios bem equipados, informatização, bibliotecas climatizadas, salas de aula e corredores limpos e pessoas educadas atendendo nos balcões das escolas, ou sistemas de avaliação bem pensados e estruturados). Estas condições certamente contribuem, porém os aspectos aparentes seguramente não dão conta de resolver um processo que envolve inúmeras outras variáveis, por certo de natureza social e econômica bem mais complexas, e não tão facilmente mensuráveis.

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Entendemos, porém, que todo esforço que se faça neste sentido é louvável e, certamente, de alguma maneira contribui para que se atinja o fim pretendido. Uma coisa, porém, é incontestável: a transparência de todo e qualquer processo é fundamental. Neste sentido entendo que a divulgação dos resultados das avaliações efetuadas pelo Ministério da Educação (MEC) é uma forma legítima de "prestação de contas" à sociedade. No entanto, seria imprescindível que esta sociedade recebesse "no pacote" os esclarecimentos necessários para a interpretação do ranking a que tem acesso.

Do nosso ponto de vista, "o valor agregado" ou, em outras palavras, "o capital de conhecimentos" adquirido pelo estudante durante sua estada na instituição de ensino é o principal termômetro da qualidade de uma instituição pública ou privada. No caso das instituições de ensino superior, é preciso comparar o capital disponível pelo estudante na entrada do curso à "riqueza" de conhecimentos que o curso universitário somou ao seu capital inicial. Se esta precaução não for tomada, algumas instituições poderão ser injustiçadas perante a opinião pública. Incluo aqui aquelas instituições que recebem alunos já com muitas defasagens em relação aos seus pares (e nessa categoria estão alocadas as instituições privadas).

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São elas que recebem alunos provenientes das escolas públicas, sendo que aí reside o paradoxo: os alunos do ensino fundamental público migrarão para o ensino superior privado! Os alunos das instituições privadas de ensino superior são os "chamados alunos trabalhadores", que emendam a jornada diária de trabalho com o estudo noturno, provavelmente tendo como intervalo o transporte coletivo superlotado e um frugal lanche. Some-se a isto o cansaço físico e as horas maldormidas. Diante desse quadro, a sociedade tem de ser advertida: que o "mais três" ao final de um curso pode significar bem mais que o "mais três" ao final de outro. Passar de um para três, requer mais esforço do que de três para cinco, nas circunstâncias acima descritas.

Há que se respeitar a diversidade, a contradição que está na base do processo para se poder valorizar o esforço e empenho de uns e outros. Em resumo, não somos contra a transparência e a divulgação do resultado das avaliações; questionamos, porém, a falta de informação que pode levar ao viés do julgamento e da interpretação, uma forma de injustiça contra aquelas instituições e seus estudantes que fazem o mesmo percurso, mas com suporte e histórias de vida muito diferentes.

Carlos Monteiro é advogado, especialista em gestão universitária e presidente da CM Consultoria.