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Na busca por valores morais, individuais e coletivos que preencham a sociedade, um fator é presença constante ao longo do processo: a dissemelhança. Seja de credo, cultura ou opinião, é nas diferenças que encontramos, afinal, a essência da democracia e as respostas para o convívio em harmonia.

O bom exemplo vem do Reino Unido, onde um modelo social mais justo e igualitário estabeleceu-se a partir do método da inclusividade religiosa. O processo de inserção de minorias assegurou direitos humanos básicos e reafirmou poderes populares, e o sucesso de tal sistema nos faz refletir. Por que não deixar de ver as diferenças humanas como entraves nos processos, e sim começar a adotá-las sob a ótica das novas possibilidades de composição na sociedade?

Quão admirável é a diversidade nos domingos de sol em Londres. O espaço público torna-se um grande caldeirão da fé, onde todos os povos exercitam seus direitos de crença e celebram livremente suas culturas e tradições. Tal caos ordenado, laboratório da miscigenação, gera condições perfeitas até mesmo para a formação de religiões híbridas – o novo social.

É no Speakers’ Corner, a "Esquina dos Oradores", que está o coração pulsante deste espírito fraterno e libertário; a morada de todos. O logradouro, antigo posto de execuções públicas da Inglaterra, é agora local para abertos debates de todas as espécies – a liberdade de expressão. Neste plano nobre e alto do comportamento humano, o respeito pelo dissemelhante não é mais uma utopia. O que nos impede de levar esse ideal adiante?

Por si só, a inclusividade religiosa plena é capaz de promover uma quebra de monopólio que revolucionará a sociedade, abrindo poderes e distribuindo influência entre as classes. No topo da pirâmide e na contramão deste processo, encontra-se uma pequena elite detentora de poder. Servos do capital, a ganância suga-lhes o tempo, o trabalho – a vida –, condenando essas pobres almas a venerar metais em templos do dinheiro. Tal fração impõe, então, a singularidade de ideias, gerando resultados adversos no Estado de direito.

Toda organização que não adotar a heterogeneidade holística de valores fatalmente se transformará em mero panfleto expansionista, desprezando a capacidade individual como elemento de transformação. Afinal, a diversidade é elemento perene e inerente à sociedade, e deve ser considerada como tal. A sociedade que buscamos, evoluída e inclusiva, inevitavelmente garantirá a possibilidade de voz para todas as vertentes de fé, pensamento e convicções. Neste palco da vida, qualquer etnia terá seu lugar, com iguais oportunidades de cidadania e preservação de suas culturas. Elegantemente encaixada em tal sistema se encontrará a inclusividade de valores, fé e tradições – um muscular exercício do direito, em que diversos elementos constituirão diferentes partes de um só corpo social.

Seja qual for seu credo ou filosofia de vida – ateu ou religioso, judeu ou católico, espírita ou evolucionista, hindu ou muçulmano –, as diferenças nada mais são que instrumentos e possibilidades de construção da paz. A humanidade clama por líderes que simbolizem a unidade dos povos e a liberdade em exercer seus princípios não ferindo o dissemelhante, mas amando-o. Ao peregrinar pela Terra Santa e pregar a paz entre as religiões, o papa Francisco mostrou que a fraternidade segue viva na índole humana e, quando alimentada, dissemina-se rapidamente.

Sim: é possível aceitar nossas diferenças, aposentar velhos dogmas, despatriar os fobismos e abandonar unilateralismos. Desprender-se de preconceitos, esquecer ódios e perder medos. É hora de aceitar os novos tempos nesta grande aldeia de todos os povos. Vivemos dias plurais e os ventos da liberdade sopram fortes por mudanças. Vamos juntos estender as mãos para o diferente e reconhecer em nós mesmos a face fraterna da diversidade. Para só então, talvez, buscar algo maior – uma unidade global.

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