O modelo de crescimento sustentado pela expansão do consumo através da ampliação do mercado e endividamento das famílias dá claros sinais de esgotamento. O fraco crescimento do PIB no ano passado e as baixas projeções para este ano comprometem os resultados da gestão Dilma. A desaceleração do crescimento ocorre em um momento de retomada da inflação e de instabilidade no cenário internacional.
Nesse contexto, é natural que cresçam as críticas à gestão da política macroeconômica do governo Dilma, especialmente sobre a política de controle da inflação. Críticas em relação a um possível não cumprimento da meta de inflação fazem todo o sentido. Ao mudar, na prática, a meta perseguida de inflação de 4,5% para 6,5%ao ano, o Banco Central ampliou as incertezas do mercado e elevou as expectativas de inflação. No entanto, alguns desses críticos estão exagerando na dose, afirmando que há risco real de descontrole do processo inflacionário e de um retorno ao cenário de hiperinflação dos anos 80.
A comparação não faz o menor sentido. Em 1989, o IPCA superou a marca de 2.000% no ano. A inflação não tinha relação com pressões de demanda ou problemas no lado da oferta; sua natureza, como boa parte da literatura econômica reportou, era inercial, fruto de décadas de indexação. Hoje, a inflação é fruto de pressões de demanda e restrições na oferta agregada de bens e serviços; processo muito distinto da inflação de natureza inercial que assolou o país nos anos 80. A prova disso é que a expectativa de inflação do mercado para os próximos 12 meses, expressa pela relatório Focus de julho, era de 5,78% ao ano.
Inúmeras são as razões para os "exageros" verificados no tratamento do tema. Décadas de inflação e a memória ainda presente de seus efeitos negativos certamente integram boa parte das preocupações nesse caso bem-intencionadas, ainda que exageradas. Não se deve, no entanto, menosprezar a presença de leituras mal-intencionadas, que têm como objetivo a disputa por poder que se anuncia. Neste caso, trata-se de verdadeiro "terrorismo" econômico, pois se utiliza da incapacidade técnica de análise de boa parte da população para instaurar o "pânico" e com isso obter ganhos de natureza política e econômica.
A capacidade de avaliação dos mercados financeiros é também muito limitada e tende a extrapolar as tendências de curto prazo. Mercados de câmbio e bolsas de valores tendem a superestimar as ondas de otimismo e pessimismo com efeitos sobre os preços dos ativos financeiros. Não se constituem, portanto, num bom guia para traçar tendências de longo prazo. Para tanto existem outros indicadores mais relevantes. O volume de investimentos diretos externos (IDEs), dada sua natureza de longo prazo, sinaliza de forma mais precisa a visão dos investidores estrangeiros sobre o futuro da economia. A previsão de receber US$ 60 bilhões em IDEs em 2013 foi mantida, apesar de toda a turbulência do mercado.
O cenário econômico brasileiro para este ano não é certamente favorável. O governo sabe que para crescer não há mágica. É preciso ampliar a capacidade de oferta da economia, através de novos investimentos e incrementos na produtividade. Apesar desse cenário, os exageros em algumas análises são evidentes; parecem mais uma apologia ao caos que em nada contribui para enfrentar os reais problemas da economia brasileira.
Marcelo Curado, doutor em Economia pela Unicamp, é professor da UFPR.