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Tesouros para as horas difíceis

Imagem ilustrativa. (Foto: Marcelo Andrade/Gazeta do Povo/Arquivo)

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Se você estiver endividado, de quem gostaria de receber um conselho? De uma pessoa que está na mesma situação? Ou de uma pessoa rica e sábia?

Pesquisas apontam o alto nível de endividamento das famílias brasileiras: 66% dos brasileiros têm dívidas, e o pior, a maioria delas no cartão de crédito, no cheque especial e em empréstimos pessoais, dívidas com taxas de juros muito altas.

Sucessivas crises econômicas, a falta do planejamento financeiro pessoal e a ganância do coração, que busca satisfazer os desejos rapidamente, contribuem para ampliar este quadro. Em alguns casos, as dívidas podem estar relacionadas a situações emergenciais, como o fato de alguém da família ter ficado doente, por exemplo; talvez seja o seu caso. No entanto, na maioria das vezes as dívidas decorrem de péssimos hábitos financeiros, como gastar além da conta ou comprar por impulso respondendo aos apelos do consumismo.

Quem não está com as contas em dia vive estressado e ansioso. Teme as inúmeras ligações dos cobradores, fica preocupado com as contas atrasadas e sofre pressão por parte dos familiares. Em muitos casos, as pessoas chegam a ter depressão, já que a questão financeira influencia a vida espiritual, a saúde mental, a rotina da família e os planos para o futuro.

Se você está endividado ou prestes a se endividar, atente para o que diz o texto bíblico de Provérbios 21,20. Aqui são apresentados dois princípios sobre dívidas e como deve ser feita a administração de sua vida financeira. Em primeiro lugar, o princípio do contentamento. O sábio confia que Deus irá prover o necessário para sua vida. Como diz a Bíblia: Não amem o dinheiro; estejam satisfeitos com o que têm. Porque Deus disse: “Não o deixarei; jamais o abandonarei”. (Hebreus 13,5).

O dinheiro é útil e devemos trabalhar para sustentar nossas famílias, mas não devemos deixar o dinheiro dominar nossa vida. O desejo por riquezas ou bens materiais nunca deve se tornar mais importante que o desejo de agradar a Deus. Todo o sucesso, a segurança e as bênçãos da vida dependem da providência de Deus. Tudo de que precisamos vem de Deus: a casa que nos traz proteção; a cidade que nos dá segurança e estabilidade; os alimentos e as provisões diárias de que precisamos para sustentar a vida. Portanto, para ser feliz e se sentir satisfeito, você não precisa responder aos constantes apelos do consumismo.

Porém, devemos nos lembrar de que a promessa de suprir nossas necessidades não significa que Deus irá nos empanturrar com bens materiais, como anunciam os pregadores da teologia da prosperidade. O texto bíblico é claro: teremos o suficiente para viver e devemos ser gratos por isso. “Não digo isso por estar necessitado, pois aprendi a ficar satisfeito com o que tenho. Sei viver na necessidade e também na fartura. Aprendi o segredo de viver em qualquer situação, de estômago cheio ou vazio, com pouco ou muito. Posso todas as coisas por meio de Cristo, que me dá forças”. (Filipenses 4,11-13).

O segundo princípio que aprendemos aqui é o princípio da moderação. O tolo vive gastando e se endividando. Ele consume tudo que possui, comprando o que não precisa, com o dinheiro que não tem, para impressionar pessoas de que não gosta, a fim de tentar ser uma pessoa descolada e moderna. Portanto, seja moderado em seus gastos. Aprenda a poupar.

Eu parto da teoria chamada de Praxeologia ou conceito de Ação Humana. Ele foi desenvolvido pela Escola Austríaca de Economia. O conceito é simples. Como seres humanos, fazemos escolhas e elas são motivadas pelos interesses pessoais. Acredito que agimos de forma proposital, buscando sair de uma situação de menor conforto para maior conforto. A pessoa perfeitamente satisfeita com a sua situação não teria incentivo para mudar seu estado de vida.

Ludwig von Mises define a Ação Humana, no livro de mesmo nome, como um comportamento propositado, que visa a passar de um estado de menor para um estado de maior satisfação. O aumento da satisfação é o lucro propiciado pela ação. As pessoas só agem para aumentar a sua satisfação ou para diminuir o desconforto, e essa conclusão é essencial para a ciência econômica. Essa é a razão de o progresso e o desenvolvimento econômico existirem. Em todos os casos, há escolha individual (nunca coletiva): o homem escolhe um meio e abre mão de outros para atingir a maior satisfação. Para que exista a Ação Humana, é necessário que: 1. exista o desconforto; 2. visualize-se situação mais favorável (sempre no futuro); e 3. o comportamento propositado tenha condições de remover ou aliviar a situação desconfortável.

Em decorrência deste axioma, surge o conceito de preferência temporal. O tempo é considerado um bem escasso. Por isso, as pessoas tendem a escolher a satisfação no menor tempo possível. A maioria das pessoas prefere os bens presentes em detrimento dos bens futuros. Este conceito está relacionado ao fato de se preferir eliminar um dissabor futuro o quanto antes, por meio de ações a que atribuímos um maior valor, e assim economizar tempo.

Segundo Hans-Hermann Hoppe, em Democracia: o deus que falhou, “Ao agir, o agente humano sempre visa a substituir um estado de coisas menos satisfatório por um estado de coisas mais satisfatório; ele, portanto, demonstra uma preferência por mais bens – e não por menos bens. Além disso, ele sempre considera o momento futuro em que os seus objetivos serão alcançados (i.e., o tempo necessário para realizá-los), bem como a capacidade de duração de um bem. Ele, assim, também demonstra uma preferência universal por bens presentes em vez de por bens futuros e por bens mais duráveis em vez de por bens menos duráveis. Este é o fenômeno da preferência temporal”.

Em resumo, para alguém pagar suas dívidas, é preciso desistir de uma satisfação presente, na qual geralmente alcançamos uma recompensa imediata, por uma satisfação no futuro. A atitude comum é considerar um sacrifício o fato de adiar essa satisfação.

A Bíblia nos incentiva a economizar, não a acumular tesouros. O dinheiro deve ser gasto com prudência e controle. O Gênesis registra a história de José, filho de Jacó no Egito. Ele utilizou o princípio da moderação para resolver o problema das vacas magras. Deus anunciou que viria um tempo de fome e carestia e determinou que 20% de toda a produção fosse poupada. José seguiu à risca as determinações de Deus. Durante sete anos, o povo do Egito foi obrigado a poupar 20% de sua produção. Quando chegou o período de calamidade, eles tinham recursos para alimentar toda a população do Egito e ainda vender o excedente para os povos que viviam ao seu redor.

Por isso, adote esse princípio e seja moderado em seus gastos. Como se diz por aí, “o dinheiro não aceita desaforo”. Isto quer dizer que ninguém consegue viver gastando mais do que ganha. Portanto, devemos ser prudentes com nossos gastos, inclusive fazendo poupança para as horas difíceis ou para emergências. Além disso, a pessoa que tem o hábito de poupar pode adquirir à vista bens de maior valor, sem a necessidade de pagar juros exorbitantes.

E se o leitor já estiver endividado? Faça um plano de pagamento. Normalmente não é possível pagar todas as dívidas de uma só vez. Por isso, é importante criar um plano de pagamento, para quitar a dívida dentro de certo prazo. Um plano bem elaborado é valioso e pode evitar muita confusão. Quando há tal plano, pode-se criar um orçamento e organizar quanto se gasta em cada necessidade e outras despesas. Assim é possível ter mais noção de quanto dinheiro se está gastando, e será possível até colocar um pouco de lado para poupar. O objetivo é viver dentro dos limites do orçamento, sem contrair mais dívidas.

Ninguém precisa fazer tudo sozinho. Muitas vezes, Deus usa outras pessoas para nos ajudar e abençoar. Peça aconselhamento a alguém que tem sabedoria financeira e que pode lhe ajudar. O acompanhamento pessoal de uma pessoa que entende de finanças pode fazer toda a diferença (Provérbios 19,20). Existem vários grupos e organizações sociais que ajudam as pessoas a pagar suas dívidas e a viver dentro de seus meios, evitando mais empréstimos. Ou talvez você conheça alguém que é muito bom em gerir seu dinheiro. Busque os recursos que estão perto de você e aproveite a ajuda humana que Deus lhe oferece. Com ajuda, você pode ficar livre da dívida!

Isaias Lobão Pereira Júnior é bacharel e licenciado em História, mestre em Teologia, professor de História no Instituto Federal do Tocantins e pesquisador do Grupo de Pesquisa em Gestão, Inovação e Mercados do Instituto Federal de Goiás.

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