Como prometido, vamos esboçar uma tipologia científica da direita hoje. O tema é mais complexo do que uma tipologia da esquerda contemporânea porque “ser de direita” tornou-se quase um palavrão. Nesse sentido, há um indício evidente de vitória cultural da esquerda nas últimas décadas.
Comecemos por esse tipo de direita (um tipo meio patológico), ou a “direita que não sai do armário”. Aquele tipo de cara de direita que os outros dizem “você é de direita” e ele fica com medo. “Ser de direita”, aqui, significa “não ter direito de contra-argumentar” e não ser convidado para jantares inteligentes.
A própria palavra “direita” dá medo de ser dita. Algumas pessoas tentam dizer a si mesmas “sou de direita” na frente do espelho e engasgam ou vomitam sobre a própria imagem.
Nesse tipo, a “pessoa de direita” se vê presa do olhar do outro (bem chique esse diagnóstico!), e esse olhar diz o seguinte: você gosta de torturadores, é anti-humanista, burro, racista, homofóbico, machista e trabalhou para a ditadura no Brasil (mesmo que você tenha hoje 20 anos de idade). Esse tipo, quando sai do armário, grita: “Sou liberal, e não de direita!”
O que atormenta este tipo de “direita que não sai do armário” é a possibilidade de que se descubra gostando de torturadores, sendo racista, homofóbico e coisas assim. Reconhecer-se como “direita fascista” e pró-Trump é reconhecer-se como um membro daqueles que queimam o filme da direita. Mas vale dizer que todo o trabalho da direita mais recente no Brasil é escapar dessa narrativa (outro diagnóstico chique!).
O oposto a esse tipo “patológico” é a “direita transante” (o termo não é meu). Essa direita tende a ser mais jovem, mais descolada, derrubou a Dilma, é a favor do mercado, do Estado mínimo e fala a língua da moçada “nas redes”. Essa direita ameaça o monopólio do mercado dos movimentos estudantis, que sempre pertenceu a esquerda.
Essa direita é mais festiva e está, aos poucos, aprendendo a falar de cinema, literatura, e coisas que ajudam a pegar mulher. Um critério para essa direita é se pega ou não gostosas.
Ligada a ela, nasce a “direita gay”, transante também, descolada e assumida. Como a anterior, é a favor do mercado e foge do estereótipo da “direita fascista”.
Também ligada a ela, temos a “direita gostosa”: mulheres jovens, normalmente empresárias, advogadas, na maioria dos casos, gaúchas ou paranaenses. Aquele tipo de mulher que assusta cara que ganha menos do que ela e que teme ficar sozinha no final, justamente por ser sexy demais e ter seu próprio Mastercard Black. Sem elas, nada acontecerá no século 21.
No lado oposto, está a “direita dos esquisitos”. Aquele tipo de cara que, ou só fala de economia, ou de são Tomás de Aquino e frequenta eventos que “são de direita”.
Esse tipo gosta de bater boca, odiar gente de esquerda e se veste muito mal. Não come ninguém, o que dá a ele um perfil de ressentimento muito fácil de ser identificado.
Variante desse tipo de “direita dos esquisitos” é a direita desses caras, simplesmente, mais velhos.
Diferente da dos mais jovens, viveu muitos anos “no armário”, o que produz um certo odor de naftalina ao redor, daí seu nome cientifico de “direita naftalina”.
Há também a direita moderna: liberal em economia, secular, defensora do Estado mínimo e que engatinha no Brasil, no sentido de constituir uma rede político-partidária pra “chamar de sua” e que escape da maldição da herança autoritária e corrupta na política.
Uma direita bem chatinha é a “direita da inovação”. Gente que fala no mundo corporativo e goza quando diz a expressão apocalíptica “impressora 3D”.
Por último, a direita religiosa, que se divide em duas.
A católica, normalmente gente muito estudiosa, conservadora, tímida e que anda na sombra em lugares públicos. Quando ouve o nome “teologia da libertação”, mal consegue conter seus ímpetos inquisitoriais.
A direita evangélica é muito mais dinâmica, faz “política real”, abre igrejas por franchising e está a ponto de criar um verdadeiro liberalismo popular no país. Aleluia, irmãos!
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