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 | Felipe Lima
| Foto: Felipe Lima

A cena é emblemática: a imensa embarcação a afundar e os músicos, heroicamente, a tocar piano, cello e violino no convés, acalmando os passageiros enquanto os botes salva-vidas eram preenchidos por alguns afortunados. Eram oito músicos, na sua maioria britânicos, que performaram até os últimos momentos do Titanic, segundo relatos dos sobreviventes. Todos pereceram, junto com o imenso navio.

Confesso ao leitor que nunca atendi à Oficina de Música de Curitiba. Não fui espectador dos concertos de música erudita e nem aluno das aulas de flauta transversal. Não relativizo, porém, a sua importância, até mesmo pela repercussão que tem encontrado o seu cancelamento. Mas, diante da atual conjuntura econômica e financeira da cidade, o seu cancelamento (ou adiamento) não é apenas justificável, como sinaliza medida de responsabilidade com os músicos e colaboradores do evento e, principalmente, com o público.

Iniciemos pelos primeiros sujeitos. Coloque-se o leitor na perspectiva do gestor público com parcos recursos financeiros. Reservaria, o leitor, as passagens aéreas dos músicos internacionais, programaria e prometeria o pagamento de cachês aos professores de música, alugaria os espaços destinados às apresentações, prepararia os canapés e, ao fim, ao apagar das luzes e cerramento das cortinas, desculpar-se-ia e sairia de fininho, pendurando a conta?

Em um cenário de crise, escolheremos continuar a ouvir a sinfonia enquanto o navio segue a trágica sina?

Era uma vez uma Oficina de Música

A Oficina de Música de Curitiba pode ser mais barata? Sim. Pode ser mais eficiente e eficaz? Sim. Pode deixar de existir? Não!

Leia o artigo de Péricles Varella Gomes, fundador da Orquestra Sinfônica do Paraná

E o público? Desculpe-me o leitor, mas aqui também se faz necessária a sua participação. É que, no caso, o leitor está em ambos os lados da equação: é potencial espectador da Oficina e também quem paga a conta, mesmo que, assim como eu, não se acomode nas poltronas. Diante de um cenário de notória e gravíssima crise que assola a municipalidade, em que bem e mal se paga o salário dos servidores públicos e a inadimplência com os fornecedores é a regra, escolheremos continuar a ouvir a sinfonia enquanto o nosso navio segue a trágica sina?

É claro, sempre há os críticos da salvação, mesmo frente ao indefectível iceberg que se encontra avante. Adiantemo-nos aos argumentos mais costumeiros. Dirão que os recursos direcionados ao evento – cerca de R$ 2 milhões – são insignificantes frente a outros gastos da municipalidade. Mas seria tal raciocínio legítimo, do ponto de vista da simples lógica? Parece que não. Se há desperdícios que aviltam o erário, devem estes ser combatidos e defenestrados, mas não servir de justificativa para qualquer outro gasto, por mais relevante que seja.

Dir-se-á, também, que havia recursos financeiros disponíveis; não lho posso acreditar diante da generalizada inadimplência do município. Aliás, nesse aspecto, considerando a tamanha relevância do evento – alçado agora à reservadíssima categoria de símbolo de Curitiba –, é de ao menos questionar por que não se fundou em patrocínio privado em vez de consumir os escassos recursos públicos – mas isso já é conversa para outra hora.

A medida do prefeito Greca, ao cancelar ou adiar a realização do evento, bem simboliza do que mais precisamos neste momento: responsabilidade. Diante da complexidade das finanças públicas, são medidas difíceis e impopulares que sinalizam o rumo que a cidade precisa seguir. A responsabilidade é devida aos músicos, colaboradores do evento e, principalmente, a quem paga a conta.

Vitor Acir Puppi Stanislawczuk, advogado, procurador do Estado e mestre em Direito pela Universidade da Califórnia, Berkeley, é secretário de Planejamento, Finanças e Orçamento de Curitiba.
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