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Tenho três filhos: um de 14, outro de 12 e um de 8 anos. Outro dia, no jantar, veio aquele discurso saudosista de que “todo tempo passado foi melhor” – ao ver que só ficavam no videogame, disse-lhes: “No meu tempo ia para a rua, batia uma bola, jogava pique e esconde, explorava as ruas do bairro, andava de bicicleta, soltava pipa...” Antes de terminar com o meu discurso, o mais novo me inquiriu: “Pai, se, na sua época de criança, você tivesse um videogame de última geração com jogos legais, você continuaria fazendo tudo isso?” Meu argumento ficou abalado. Seria hipócrita se dissesse que sim, então parti para uma resenha menos determinista; disse que é bom ter equilíbrio sempre em tudo, e não era bom ficar o dia todo jogando videogame.

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Como educador, tenho refletido muito sobre esse nosso papel em tempos de mudanças expressivas. Principalmente no que tange à velocidade com que essas mudanças acontecem. No seu livro Making the Modern World: Materials and Dematerialization, Vaclav Smil diz que, de 2011 a 2013, a China usou mais cimento (6,6 gigatoneladas) do que os Estados Unidos em todo o século 20 (4,5 gigatoneladas); no que tange a consumo, em 2005 existiam em torno de 2 bilhões de linhas telefônicas; hoje temos mais linhas que pessoas no mundo e, como tudo tem um custo, parece que a conta está chegando. Segundo a Global Footprint Network, “todas as árvores, toda a água, o solo fértil e os peixes que o planeta pode nos fornecer em um ano” foram utilizados até 1.º de agosto deste 2018.

Parece que há pouca percepção no impacto das mudanças tecnológicas no emprego

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O quadro é muito abrangente, mas quero me concentrar na velocidade dessas mudanças e no futuro das próximas gerações e sua relação com a educação e o emprego. Parece que há pouca percepção no impacto das mudanças tecnológicas no emprego. O estrondoso número de desempregados do Brasil de hoje (segundo o IBGE, o desemprego ainda atinge 13 milhões de pessoas) é creditado na crise econômica e política que o país vive há anos; pouco se fala no impacto das mudanças tecnológicas na destruição e na criação de empregos. Um exemplo claro pode ser visto na introdução do uso da Inteligência Artificial (IA) nos negócios. Atendentes de telemarketing, revisores de contratos, vendedores, guias turísticos, corretores de seguros, gerentes de banco, dentre outros profissionais, estão sendo substituídos por bots, espécie de algoritmos programados para resolver problemas que antes requeriam total ação humana.

A pergunta é: a tecnologia acabará com os empregos?

O assunto esteve entre os mais discutidos do Mobile World Congress desse ano, principal feira do setor de tecnologia realizada em Barcelona. E a resposta foi “não”. Segundo os especialistas, haverá mais criação que destruição de empregos com a inteligência artificial. Só que há um porém: nenhuma profissão do mundo deixará de ser atingida.

Esse ponto de vista é reforçado no livro The Future of the Professions: How Technology Will Transform the Work of Human Experts (“O Futuro das Profissões: como a tecnologia transformará o trabalho dos especialistas”), no qual os professores Richard Susskind e Daniel Susskind preveem um novo contexto do trabalho dos especialistas em diversos domínios do conhecimento. Segundo os autores, os profissionais do futuro desenvolverão tarefas específicas, independentemente das suas profissões, sempre tendo a tecnologia como coadjuvante para melhorar e simplificar o trabalho. Paralelamente a isso, haverá um cenário onde a tecnologia substituirá as profissões tradicionais criando uma ruptura educacional.

Leia também: Desemprego 4.0 – não é pessimismo, é choque de realidade (artigo de Vinicius Carneiro Maximiliano, publicado em 21 de dezembro de 2017)

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Leia também: Gerar mais e melhores empregos é o desafio (artigo de Vicente Assis, William Jones e Pedro Guimarães, publicado em 12 de março de 2017)

É nesse cenário que tenho refletido: que tipos de empregos serão demandados? Que conhecimentos específicos serão necessários? As escolas e universidades estão preparadas para essas mudanças? Qual a sensibilidade dos professores para essa realidade? O Estado está prevendo políticas públicas na educação adequadas com essas alterações estruturais?

São tantas perguntas e poucas respostas, mas tudo isso não é mais um exercício de futurologia. Acreditar que, depois da crise econômica, tudo voltará ao normal é como pensar que as pessoas voltarão a usar cartas em vez de e-mails ou de mensagens de texto; ou, então, será como pedir para meus filhos deixarem a internet e o videogame completamente para começarem a ler livros impressos e andarem de bicicleta unicamente.

Hugo Eduardo Meza Pinto, economista, doutor pela USP e associado da empresa de economia criativa Amauta, é professor de Economia da Faculdade Estácio Curitiba.