Em um período de apenas dez dias, recebemos duas notícias surpreendentes. Primeiro, a Copa América na Argentina e Colômbia seria cancelada; segundo, o Brasil aceitou receber a competição a duas semanas do seu início. A primeira notícia não é inédita, pois a história do torneio é marcada pela intermitência e mudanças no cronograma. Mas a segunda, sim, é inédita. Quem aceitaria sediar um evento dessa magnitude em cima da hora? Quais são os benefícios de sediar a competição? Quais são os riscos?
Os benefícios são econômicos e políticos. As pessoas envolvidas na organização da Copa ganharão milhões. Direitos de transmissão e publicidade. Aparentemente, os clubes donos de estádios que terão jogos também recebem pagamentos. Em tempos normais, um pouco do dinheiro permearia a economia por meio do turismo, aumentaria o faturamento de restaurantes e hotéis. Com mais pessoas visitando o Brasil, aumentaria o número de oportunidades de negócios. Mas, neste ano, esses benefícios tendem a ser reduzidos pelas dificuldades de deslocamento impostas por vários países. Mesmo que o governo brasileiro não imponha restrições de viagem, muitos países não recomendam que seus cidadãos venham ao Brasil neste momento.
Que malefícios a Copa pode trazer? São políticos e sanitários. Os governos estaduais e municipais decretaram restrições à atividade comercial ao longo do último ano. É difícil conciliar essa posição com a realização de um evento esportivo internacional com o qual não tínhamos compromisso. Esse ponto é especialmente relevante. Não tínhamos nenhum compromisso assumido com a realização da Copa América este ano. O governo japonês está enfrentando duras críticas internas pela manutenção dos Jogos Olímpicos. O argumento que estão usando é o de que o cancelamento representaria um prejuízo de US$ 50 bilhões. Hotéis programaram ampliações, contrataram funcionários. Pessoas investiram dinheiro, fizeram empréstimos... Não é o nosso caso, soubemos que a Copa seria no Brasil menos de 15 dias antes do início da competição. A situação aqui é oposta. Não houve tempo para preparar nada.
Em relação à questão sanitária, os riscos estão relacionados principalmente à entrada de novas cepas no Brasil. Um dos países mais bem-sucedidos no combate à pandemia é a Austrália. Qual é o segredo? Um embargo praticamente completo à entrada de pessoas no país. Realizar um evento internacional é o oposto disso.
O Brasil já se mostra fértil em desenvolver novas cepas, o que acontece, principalmente, pela falta de um plano integrado de combate à pandemia. De acordo com a plataforma de dados genômicos da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), o país tem, atualmente, mais de 90 cepas em território nacional. E o principal desafio com as variantes é o alto grau de transmissão, além dos riscos de mutação. As restrições impostas até aqui não se provaram eficientes; basta olhar a atualização do número de mortes. Portanto, mesmo sem público, a competição vai reunir muitas pessoas – algumas delegações estão vacinadas, mas não completamente. E isso não é garantia de que eles não possam transmitir o vírus.
Ou seja, com a entrada de mais pessoas, novas linhagens, novas variantes, novas cepas, possíveis mutações, mais pessoas infectadas, mais hospitalizações, mais mortes, mais famílias em luto. E tudo novamente. Até que o Brasil tenha como prioridade a vida.
O que poderia ter sido feito quanto a Argentina e Colômbia, que se recusaram a receber os jogos? A alternativa mais clara seria o cancelamento ou adiamento do evento. Que, aliás, parece ser a alternativa preferida dos jogadores, não pelo risco de contaminação por Covid-19, mas porque a competição é realizada a cada dois anos e atrapalha os compromissos profissionais dos jogadores com seus clubes. Nem eles têm interesse nessa competição.
Esse ano, o melhor seria torcer pelo Brasil e não pela seleção.
Marcelo Abreu Ducroquet é infectologista e professor do curso de Medicina da Universidade Positivo.
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