Um episódio de saúde mental recente e delicado envolvendo um estagiário de uma empresa, em São Paulo, reabriu a discussão sobre a importância da discussão desse tema nas empresas de maneira urgente. O episódio chocou a todos por dois motivos. O primeiro por se tratar de um profissional ainda em formação e segundo por esse tema ainda ser tratado como um tabu pelo mundo corporativo como um todo.
Independente da área de atuação do profissional, o tema precisa ser discutido por gestores e trabalhadores de todos os setores, indústrias, níveis de atuação, cargos e salários. O cenário pós-pandemia afetou não só a saúde física das pessoas, mas a mental também. Muitas empresas foram fechadas, pessoas foram demitidas. Quem ficou, em alguns casos, está tendo que trabalhar em dobro. Além disso, tem o desafio de provar que é bom o suficiente para se manter no cargo.
A busca por mais produtividade, a alta do desemprego, a disputa entre profissionais, tudo isso foi potencializado em um cenário cada vez mais competitivo e em mudança. Soma-se a isso a tecnologia que tem revolucionado o modelo de negócio de vários setores.
Aqui entra uma discussão sobre o limite entre o desempenho de alto nível e a estafa física e mental. Um estudo ainda em andamento no Reino Unido, com cerca de 70 empresas, com 3.300 profissionais, irá testar um formato de trabalho de quatro dias por semana. Com isso, os trabalhadores farão 80% da jornada, mas a empresa manterá o salário integral. O objetivo é medir e avaliar os resultados do experimento que são a produtividade e o bem-estar dos envolvidos. Os defensores desse modelo alegam que uma jornada de trabalho reduzida pode melhorar esses aspectos. Logo, não afetaria a entrega dos resultados que, até mesmo, poderiam crescer.
Medida similar já foi implantada na Islândia, onde 2,5 mil funcionários públicos reduziram a jornada de trabalho de 40 para 36 ou 35 horas semanais. Eles também tinham a opção de concentrá-las em apenas quatro dias para ganhar mais um livre ou reduzir as horas trabalhadas nos cinco dias úteis. Nesse caso específico, os resultados apontaram que houve um aumento no bem-estar e na produtividade dos colaboradores.
Essa discussão antiga que questiona se trabalhar bem é trabalhar muito voltou ao debate com o início da pandemia. Com as atividades corporativas sendo realizadas em casa, muitos funcionários registraram sobrecarga de trabalho pelo fato que não haveria mais um limite de tempo para finalizar as demandas. Em 2017, o Brasil já ocupava o primeiro lugar de prevalência de transtornos de ansiedade nas Américas, segundo relatório da Organização Mundial da Saúde (OMS). Já na fase mais intensa da disseminação da doença no país, que demandou um isolamento completo das pessoas em casa, os índices de estresse, burnout, medo e depressão estavam em alta.
Enfim, é um assunto muito delicado, triste, mas importante e que precisa ser discutido e conversado sempre, ao longo do ano, entre todos, seja por funcionários, seja por gestores.
Bruno Martins é graduado em administração de empresas e pós-graduado em Gestão de Marketing e Negócios pela ESPM e CEO da Trilha Carreira Interativa.