Quem não lembra das tristes imagens nos anos 90 de nossos idosos virando noites em estabelecimentos sombrios e abarrotados bebendo, fumando e gastando até o último centavo de suas aposentadorias em bingos e máquinas caça níqueis? Simultaneamente, se avolumavam escândalos de corrupção e lavagem de dinheiro ao ponto que o então presidente Lula teve que assinar às pressas um decreto acabando com a atividade pra lá de nociva à saúde física, mental e social dos brasileiros.
Mas aquele pesadelo pode se repetir caso o Congresso se equivoque novamente e insista em deliberar o PL 2234/22 que promove a volta de mais de 1000 bingos e 87 cassinos, algo mais terrível ainda do que as casas de apostas, as chamadas bets, que vem devastando empregos, famílias, vidas e aumentando a lavagem de dinheiro e lucros do crime organizado.
Estamos criando legiões de apostadores compulsivos entre a população empobrecida, endividada e doente, que deposita nos jogos de azar a falsa esperança de ganhar dinheiro sem trabalho
Quando da discussão do PL 3326/2023 alertamos que haveria endividamento em massa da população e “canibalizacao” de receita das atividades produtivas (comércio, serviços e até indústria) que prejudicaria o lazer, alimentação, cultura, educação em benefício de magnatas internacionais da jogatina. Dito e feito! Estamos diante de um aumento vertiginoso no número de dependentes e que mais está sofrendo com a liberação das casas de apostas são os mais pobres que, no desespero, estão usando o dinheiro das férias e até se demitindo – aos montes – para torrar seus direitos na ânsia de jogar visando pagar suas dívidas oriundas do jogo. Muitos não aguentam a pressão que retroalimenta o vício e estão se suicidando, elevando uma estatística macabra, típica de uma pandemia.
O Brasil chegou ao cúmulo de ter R$ 127 reais do bolsa família comprometido com a nefasta prática do jogo de azar! São dezenas de bilhões tirados dos mais necessitados e da economia produtiva para atender interesses escusos de jogos como cassinos, bingos, máquinas caça níquel, tigrinho e aviãozinho, dentre outros comandados por softwares sediados fora do país e programados para a banca sempre ganhar e o jogador perder tudo! E o pior: estamos vendo somente a “ponta do iceberg”, não sendo possível calcular ainda a extensão do estrago dessa iniciativa irresponsável de um governo cego para as consequências sócioeconômicas da nação, mas tarado por receitas, mesmo que signifique a falência autofágica de setores até então auto sustentáveis. Não é a toa que temos atualmente no Senado duas CPI’s abertas, uma delas que começou o trabalho há poucos dias.
De maneira mais agravada, tal situação irá ocorrer se jogos em estabelecimentos físicos forem aprovados, turbinados pela ambição insaciável de um setor que não gera empregos, turismo e muito menos impostos. Tal impacto negativo baterá ainda com mais força ainda em nosso sistema de saúde com o crescimento vertiginoso de ludopatas. Em vários países, a “indústria da jogatina” monta uma logística para buscar os aposentados seu público alvo (fácil) em casa e subsidia até bebidas alcoólicas para que eles sejam atraídos para o bingo/cassino. É uma verdadeira arapuca, uma armadilha que o farão gastar tudo o que ganham e que conseguiram poupar em vida.
Estamos criando legiões de apostadores compulsivos entre a população empobrecida, endividada e doente, que deposita nos jogos de azar a falsa esperança de ganhar dinheiro sem trabalho. Os sinais estão aí para quem quiser ver. Nada na vida acontece por acaso. Se estamos vivendo uma tragédia humanitária por causa das bets, imaginem ampliar esses danos com estabelecimentos físicos como bingos. Errar uma vez é humano. Duas vezes é burrice ou ganância sabe lá por quais interesses… Os do povo é que não são! Basta!
Eduardo Girão é senador.