O desastre ocorrido no Rio Grande do Sul, se analisado com atenção, remete-nos aos conceitos acerca da natureza do Estado (setor público) e da natureza do indivíduo. No clássico livro Leviatã, o filósofo inglês Thomas Hobbes afirma que o “homem é o lobo do homem” ao explicar uma natureza humana egoísta e propensa à violência. Sendo assim, a contenção desses indivíduos deveria ser feita por um poder central, como o Estado. Isto é, para escapar de um cenário caótico e perigoso, os indivíduos cedem parte de sua liberdade e direitos naturais a um governo soberano, o leviatã, em troca de segurança e proteção.
Ocorre que esse leviatã estatal nunca parou de crescer e exigir mais recursos para a sua existência. No Brasil, o crescimento da arrecadação por meio da tributação não representou melhorias ao desenvolvimento humano ou serviços prestados à população por meio do setor público, e, em meio à tragédia gaúcha, o que percebemos é que a contrapartida que justificaria a existência do leviatã não se concretizou.
A infraestrutura pública colapsou, e a resolução imediata não veio da esfera pública – até porque não teria como vir, dada a sua natureza burocrática. Pior ainda: dos governos, o que recebemos foi politização e tentativas frequentes de palanque, evidenciando uma tragédia política. Por outro lado, do indivíduo vimos colaboração, empatia e união instantânea. Os saques, tentativas de golpes e violência compreenderam uma minoria de pessoas, cujo número não se aproxima do movimento histórico de cidadãos ao redor do Brasil que uniram esforços para ajudar.
A situação contradiz o que Hobbes escreveu. O Estado brasileiro não foi capaz de prover segurança, e os indivíduos ascenderam como atores principais fazendo o bem. Assim, não é em vão que tenha surgido um movimento de resposta da classe política e da mídia com ataque aos discursos de “o povo pelo povo”. A percepção popular de que o leviatã não se justifica causa desconforto naqueles que exigem mais Estado e se beneficiam dele.
É evidente que precisamos refundar o setor público brasileiro. Urge a necessidade de maior eficiência para enfrentar os grandes problemas que estão à frente. A tragédia no Rio Grande do Sul é um retrato da tragédia do Estado.
Rodrigo Villa Real Mello é economista e associado do Instituto de Estudos Empresariais (IEE).
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