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Capa do livro “Shepherds for Sale: How Evangelical Leaders Traded the Truth for a Leftist Agenda” (Pastores à venda: como os líderes evangélicos trocaram a verdade por uma agenda esquerdista”, de Megan Basham.
Capa do livro “Shepherds for Sale: How Evangelical Leaders Traded the Truth for a Leftist Agenda” (Pastores à venda: como os líderes evangélicos trocaram a verdade por uma agenda esquerdista”, de Megan Basham.| Foto: Reprodução/Livros Broadside

O novo livro de Megan Basham, Shepherds for Sale: How Evangelical Leaders Traded the Truth for a Leftist Agenda (Pastores à venda: Como os líderes evangélicos trocaram a verdade por uma agenda esquerdista), continua a causar agitação.

Nas semanas que se seguiram à sua publicação, ele foi lançado ao 5.º lugar na lista de mais vendidos da Amazon e ao 12.º lugar no New York Times. No entanto, é um erro julgar o livro pelo título, pois ele sugere que os leitores receberão uma lista específica de pastores que venderam sua doutrina e seus ministérios por um ingresso para a Convenção Democrata Nacional. Basham não prova que seja esse o caso. Em vez disso, ela mostra os dois tipos de tentação que enfrentam os líderes evangélicos e os ministérios paraeclesiásticos.

Primeiro, a tentação do prestígio. Ao suavizar as proibições bíblicas e a definição do pecado, Basham mostra que certos líderes, exemplificados por Russell Moore e David French, alcançaram proeminência nacional. “French se transformou, nos últimos oito anos, de um conservador preferido de um público de nicho na National Review para as alturas do New York Times precisamente por causa de sua oposição a seus colegas evangélicos em relação a Trump.” Ela cita o ex-editor do Christianity Today, Mark Galli, que descreve a empolgação que sentia a sua equipe quando era mencionada positivamente por gigantes do jornalismo como o New York Times e o Wall Street Journal.

Os líderes cristãos não estão imunes ao canto de sereia da aclamação pública

Em segundo lugar, as organizações esquerdistas estão visando especificamente os evangélicos como um grupo de eleitores que se opõe às metas políticas progressistas. Basham mostra que grupos como a Arcus Foundation e o Democracy Fund desenvolveram planos de longo prazo e investiram milhões de dólares para tornar os cristãos evangélicos mais simpáticos às suas metas políticas. “Cerca de 32% do eleitorado dos EUA se descreve como evangélico, e a grande maioria desse grupo se inclina para a direita. Entre os americanos que se descrevem como conservadores, os evangélicos protestantes são o maior grupo religioso com uma diferença de 23 pontos.” 

Se essas organizações progressistas conseguissem mudar o grupo de eleitores para a neutralidade, ou até mesmo para o apoio às suas ambições, seria uma vitória para as suas causas.

Embora Basham não possa provar que os evangélicos mudaram suas posições doutrinárias como resultado da obtenção de fundos, ela mostra que os grupos ativistas agora percebem que os evangélicos aceitarão, contudo, o dinheiro. Sua análise convida o leitor a perguntar por que as organizações seculares e progressistas estão fazendo doações tão grandes a esses evangélicos.

 O melhor que ela consegue mostrar é a correlação, indicando que tanto o Christianity Today quanto o Trinity Forum sofreram um desvio de missão durante esse período. As organizações cristãs não são imunes a incentivos, e os líderes devem ter cuidado com os incentivos que buscam.

Por exemplo, em 2016, observa Basham, a Lilly Endowment (braço filantrópico da grande empresa farmacêutica Eli Lilly) “concedeu, pela primeira vez, uma doação considerável à Christianity Today – pouco mais de US$ 2 milhões para um projeto a fim de ‘[Criar] um Futuro para o Pensamento Cristão’”. Basham observa ainda que “entre 2019 e 2022, [a Lilly Endowment] concederia [à Christianity Today] mais US$ 1,6 milhão, com mais de US$ 1 milhão destinado a uma iniciativa para ‘pregação convincente’ a fim de criar conteúdo para ajudar a ‘educar’ os pregadores”

Basham não se opõe ao recebimento de fundos pela Christianity Today, mas observa que “o problema com as doações da Lilly é que elas estão indo especificamente a instituições evangélicas para esforços pastorais e ideológicos, e [a Lilly Endowment] parece não ter nenhum compromisso com a ortodoxia”

Basham não define, porém, a “ortodoxia”, exceto em um sentido histórico implícito. Essa ortodoxia afirmaria que o casamento existe somente entre um homem e uma mulher e que os seres humanos não podem mudar de sexo ou gênero porque são feitos à imago dei

Os valores cristãos tradicionais se opõem às políticas progressistas, e o objetivo dos grupos que Basham identifica é fazer com que os cristãos vejam as políticas progressistas - tais quais fronteiras abertas, casamento gay e afirmação de transgêneros - como aceitáveis para sua crença.

As congregações e os apoiadores institucionais não devem ficar cegos a essas realidades. Os Batistas do Sul têm razão em perguntar por que sua agência de lobby está recebendo dinheiro de grupos seculares: a ERLC “é beneficiária da generosidade de Omidyar [por meio do Democracy Fund], no valor de cerca de US$150.000. A Fetzer Foundation, da mesma forma, presenteou a ERLC (Ethics & Religious Liberty Commission) com US$220.000. Mark Zuckerberg, do Facebook, doou outros US$90.000 – e tudo isso somente entre 2018 e 2021.”

É impossível que esses fundos venham sem nenhuma restrição. Até que ponto os interesses dos Batistas do Sul, cuja ERLC existe para promover na arena política, foram comprometidos por essas ofertas?

Basham argumenta ainda que a heresia está abertamente presente na igreja evangélica e que líderes confiáveis adotaram ideologias progressistas contrárias ao ensino cristão

Eles usaram suas plataformas para inserir ideias seculares no lugar de categorias teológicas tradicionais: a destruição da mudança climática em vez da escatologia; a teoria crítica da raça em vez do perdão bíblico; as afirmações LGBTQ+ em vez das doutrinas cristãs do pecado e da antropologia. Aqui também Basham mostra níveis significativos de correlação, mas não consegue indicar causalidade. Ela destaca os principais líderes que defendem pontos de vista progressistas, mas não mostra que eles o fizeram em troca de ganhos financeiros.

Os capítulos de Shepherds for Sale são de força variável, e as evidências de Basham nem sempre são fáceis de acompanhar. Suas notas de rodapé contém links diretos que permitem ao leitor acompanhar a pesquisa, mas digitar URLs em um navegador da Web é um processo demorado. 

Nas notas que pude verificar, as fontes de Basham corroboraram com suas afirmações (com uma exceção – no capítulo 1, nota 40, em que Basham cita o discurso de Katherine Hayhoe como evidência de que seis palestrantes proferiram palestras sobre mudanças climáticas em uma conferência da SEBTS). Os capítulos também são organizados em torno de diferentes temas: mudanças climáticas, imigração ilegal, aborto, Christianity Today, Covid-19, CRT, como as igrejas lidam com escândalos de abuso sexual e questões LGBTQ. 

Basham se concentra em líderes de alto nível e na maneira como aqueles com status elevado no meio evangélico usaram suas posições para legitimar outros grandes nomes. “[Timothy] Keller, [Rick] Warren, [N.T.] Wright, [Russell] Moore e [Ed] Stetzer elogiaram publicamente [Francis] Collins como um irmão piedoso, assim como o Christianity Today e o Relevant.” 

O uso de plataformas para legitimar certas vozes chama especialmente a atenção de Basham. Em sua descrição de Francis Collins, por exemplo, Basham se concentra na prévia falta de acesso às principais plataformas cristãs e em como os nomes listados acima facilitaram sua capacidade de persuadir os líderes da igreja a cumprir as políticas da Covid-19. Basham vê a capacidade de Collins acessar plataformas cristãs por meio dessas vozes como uma forma de apoio e endosso, resultando na adesão de congregações evangélicas. 

Um dos capítulos mais fortes de Basham segue os esforços financeiros para incentivar as grandes denominações cristãs a adotarem posições de afirmação LGBTQ+. A Fundação Arcus começou a dedicar dezenas de milhões de dólares para, em suas palavras, “desafiar a promoção de interpretações estreitas ou odiosas de doutrinas religiosas” dentro das principais denominações cristãs. Entre 2013 e 2018, por exemplo, ela doou mais de dois milhões de dólares para a Rede de Ministérios de Reconciliação para “garantir a participação plena de pessoas de todas as orientações sexuais e identidades de gênero na Igreja Metodista Unida”.

Basham argumenta que a recente divisão na Igreja Metodista Unida sobre a afirmação LGBTQ é resultado da influência da Arcus Foundation. Como segundo exemplo, Basham aponta para a fundação da Embracing the Journey (Abraçando a Jornada) por Greg e Lynn McDonald para “pais de crianças LGBTQ” na North Point Church (Igreja de North Point) de Andy Stanley, que tem uma frequência semanal média de cerca de 23.000 pessoas. Sua organização se espalhou por fim para a Igreja Saddleback, de Rick Warren. Basham mostra que tais grupos estão dispostos a investir fundos significativos para incentivar a igreja a suavizar a pregação contra o pecado e a esperança encontrada pelo arrependimento.

Não é preciso dizer que Basham enfrentou uma tempestade nas redes sociais quando alguns dos nomes citados no livro responderam à sua análise. Gavin Ortlund lançou dois vídeos refutando as afirmações de Basham no capítulo 1, Marvin Olasky insinuou que ela deve ter citado o que se lembrava dos comentários dele, Phil Vischer contestou o fato de Basham citar seu desejo de “nuance” nas discussões sobre aborto e J.D. Greear publicou um ensaio longo e pessoal em seu site.

A análise das respostas exigiria um artigo separado, mas tanto Ortlund quanto Greear, ao se oporem ao retrato traçado por Basham, também demonstram a força de seu argumento mais amplo: ambos os homens se sentem mais confortáveis com posições anti bíblicas do que podem admitir. No caso de Ortlund, ele ignora a ênfase retórica que seu vídeo original dá àqueles que concordam com sua leitura da ciência das mudanças climáticas (aqueles que não concordam são livres para fazê-lo, mas são considerados ignorantes). E Greear apresentou a ideia de como o “amor ao próximo” deveria ter dado forma as respostas à Covid e afirmou sua intenção como presidente da SBC (agora ex) de promover a diversidade.

Deve-se observar que a maioria dos guerreiros virtuais que se opuseram a Basham não negaram seu argumento, mas, em vez disso, concentraram-se em imprecisões percebidas nos detalhes. 

Eles se assemelham aos pais no poema “Body and Soul” (Corpo e Alma), de B.H. Fairchild, que são condenados por “roçar os fatos, mas maltratar a verdade”. O mérito do livro não está no fato de cada citação ter sido extraída correta ou incorretamente, mas em responder à pergunta que a liderança evangélica não quer abordar: será que os líderes trocaram a verdade de Deus por uma mentira? Basham argumenta: “É prática de lobos ignorar as preocupações de quem vê concessões e falsos ensinamentos insinuando-se na igreja e acusar quem soa o alarme de fazer uma tempestade em copo d'água”. Basham deixa a cargo do leitor concluir se as suas preocupações são uma coisa ou outra.

Os céticos, em relação às afirmações de Basham, devem ler a conclusão primeiro; seu argumento faz mais sentido à luz do testemunho. Basham encontrou o cristianismo após um evidente período de pecado, e aprender a reivindicar a liberdade do pecado, por meio de Cristo, foi uma parte crucial de seu discipulado.

Basham não escreve com o desejo de fazer com que os pastores sejam demitidos ou de levantar um tumulto; em vez disso, ela escreve por amor à pureza doutrinária da igreja

Ela prefere dar as “feridas de um amigo” em vez dos beijos de um inimigo. Nesse sentido, Basham merece elogios, apesar dos pontos fracos de sua abordagem.

Shepherds for Sale torna inescapável a realidade de que ideias mundanas podem se infiltrar na igreja, e todos os membros e líderes da igreja devem estar em guarda para proteger “a fé que foi entregue de uma vez por todas aos santos”. 

Andy Stanley e Rick Warren continuam sendo nomes enormes no protestantismo evangélico, embora, se Basham estiver certa, ambos deixaram a ortodoxia há muito tempo. 

A promoção de líderes heterodoxos e heréticos é um problema que Jesus previu – ele sabia que ideias falsas se infiltrariam na igreja. A história da igreja é um reflexo contínuo da tensão na preservação de uma tradição viva. Começando com Paulo repreendendo Pedro por não comer com os gentios na Galácia, a teologia ortodoxa do cristianismo se desenvolveu por meio de embates. 

Marcião publicou sua edição do Evangelho de Lucas, levando ao esclarecimento do cânone do Novo Testamento um século depois; Ário proclamou uma falsa visão da natureza de Cristo que levou dois séculos para ser resolvida; a Reforma Protestante destacou uma variedade de abusos e costumes humanos que surgiram dentro do catolicismo, provocando o Concílio de Trento a esclarecer o ensino real da Igreja Católica Romana. 

Sim, Basham pinta com traços largos, e ela não tem papas na língua ao lançar acusações. Mas seu argumento é daqueles que o meio evangélico precisa considerar: se ideias falsas se infiltraram nos níveis mais altos da liderança evangélica, os cristãos devem ser alertados, e cautelosos e ativos na defesa da verdade cristã.

Josh Herring é professor de educação clássica no Thales College, trabalhando para desenvolver um novo modelo de preparação de professores, especificamente com atenção aos futuros professores que pretendem se juntar ao movimento de renovação clássica. Ele e sua esposa moram em Wendell, NC. Josh é um leitor voraz e escreve regularmente para o Acton Institute, Liberty Fund e The Federalist. Ele apresenta o podcast The Optimistic Curmudgeon e escreve no Twitter em @theoptimisticC3.

© 2024 Acton Institute. Publicado com permissão. Original em inglês.

Conteúdo editado por:Aline Menezes
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