Imagem ilustrativa.| Foto: Charlein Gracia/Unsplash
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Apesar de ter feito pedagogia, psicopedagogia, mestrado em Educação e vários cursos na área, até pouco tempo eu desconhecia a possibilidade de uma pedagogia diferenciada. Mas ela existe. E quero compartilhar uma reflexão com o intuito de ajudar ainda mais educadores a refletir sobre as possibilidades de transformação de uma escola infantil.

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São reflexões práticas e funcionais para "abrir a mente". Ao pensarmos em uma escola de educação infantil, para crianças de 4 meses aos 6 anos, a imagem mais comum é de uma sala de aula com mesinhas, tinta, massinha e crianças trabalhando em círculo, sentadas juntamente com uma professora. Nas paredes, personagens infantis e regras de comportamento. No canto, um armário alto e fechado cheio de apostilas ou livros que são entregues diariamente às crianças no horário da atividade.

O estímulo para a aprendizagem pode vir de muitas maneiras – não necessariamente com um quadro negro à frente da sala.

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Sempre foi assim. Mas será que precisa continuar assim? A concepção de infância na nossa cultura olha para a criança como um ser frágil, impotente e muitas vezes incapaz, como se não tivesse inteligência ainda. Insatisfeita com isso, fui para outros países conhecer as melhores práticas e compreendi que não precisa ser dessa forma. Felizmente, nos últimos anos percebo um grande desejo de mudança de muitas instituições aqui no Brasil. A própria Base Nacional Curricular Comum, que norteia a educação nacional, já traz fortes orientações sobre uma concepção de infância mais adequada.

Ou seja, já não é mais opção: a própria legislação indica a necessidade de transformação curricular. A educação de uma criança não é feita apenas de lápis de cor, massinha e tinta, pintando um desenho pronto no papel. Uma criança é constituída por oportunidades que a ajudam a se desenvolver. Propostas inteligentes, com desafios e significado. Fazer uma criança pequena pensar, ouvir suas hipóteses e auxiliar em seu desenvolvimento pleno é o que deve ser trabalhado em uma escola da infância. Hoje compreendo claramente o quanto isso é possível e o quanto as crianças são potentes para, com organização e supervisão, serem desafiadas com propostas inteligentes, por meio das quais é possível perceber como é realizada a construção do pensamento.

O chão da escola é cercado de acontecimentos, correrias, solicitações, emergências, tanto que, se não tivermos um olhar intencional, não conseguimos enxergar o fundamental, que é o processo de aprendizagem das crianças. Elas são seres extremamente inteligentes e aprendem a todo momento. E o estímulo para a aprendizagem pode vir de muitas maneiras – não necessariamente com um quadro negro à frente da sala.

Em todos esses anos de vivência no chão da escola, acompanhei o desenvolvimento de centenas de crianças em seus primeiros anos de vida. Baseada nessa experiência com o encontro do olhar participativo, desenvolvi um olhar metafórico para a educação infantil. Como a base de um prédio, a infância é o que sustenta a vida. Se olharmos para esses seis anos iniciais com o devido respeito, e dermos a devida sustentação sobre esses quatro pilares, o prédio pode virar um grande arranha-céu.

Construção de autonomia: o adulto não precisa fazer tudo pela criança. Ele pode estar junto e dar o suporte necessário, mas precisa acreditar na capacidade da criança. A construção da autonomia lhe trará segurança e potência para esse desenvolvimento.

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Construção do pensamento crítico: uma pessoa que pensa e tem consciência desse pensamento mostra-se muito mais criativa, crítica e potente. Mas como fazer isso? Algumas dicas são não responder perguntas prontamente, e sim instigar a descoberta, valorizar a construção do raciocínio, oportunizar repertório para desenvolver o pensamento e “abrir a cabeça”. A criança que se percebe como um ser pensante mostra-se questionadora, curiosa e desafiada pelo pensar. Perguntas são caminhos para o senso crítico, e por isso uma escola precisa ser um espaço de muitas perguntas e poucas respostas prontas.

Vínculo positivo com a aprendizagem: criança precisa gostar de aprender! Entender que a aprendizagem está em todo lugar e que é algo prazeroso. Esse pilar está muito relacionado com a construção do pensar. No entanto, quantas escolas entendem que aprender é ficar sentado preenchendo letras em pontilhado ou mesmo só escutando o professor? A vida se aprende pela vida. A criança quer experimentar, mexer, conhecer. Precisa entender que a aprendizagem é o portão da evolução e, se o vínculo construído for positivo, ela nunca mais vai deixar de aprender e a evolução será constante. Propostas inteligentes, mãos na massa, com interação e participação potencializam esse vínculo. Para isso os professores devem oportunizar experiências significativas, e não apenas passar tarefas. A criança é um ser naturalmente curioso e é preciso valorizar isso por meio de pesquisas instigantes, que valorizem e tragam prazer ao aprender.

Desenvolvimento de habilidades socioemocionais: saber se relacionar com o outro, consigo próprio e com o mundo é o objetivo deste pilar. Compreender que o mundo é feito de relação e oportunizar sua construção traz a oportunidade de desenvolver essas habilidades fundamentais para o relacionamento humano. Saber esperar, dividir, trocar, ceder, ganhar, perder, solicitar, se posicionar é fundamental para quem vive em sociedade. Ao olhar para esse pilar na escola enxergamos o quanto a escola é fundamental para a sociedade. É onde surgem as primeiras relações fora da família. Se eu tenho um professor consciente das oportunidades que pode promover com o olhar nesse viés eu ajudo a criança a experimentar diferentes oportunidades de aprendizagem socioemocional. Uma criança pequena que aprende a dar o limite ao outro e não ceder de forma passiva seu desejo pode aprender a evitar um abuso. Uma criança que aprende a esperar sua vez na hora do jogo desenvolve habilidades significativas para enfrentar um dos males do século que é ansiedade. Uma criança que ajuda o outro desenvolve empatia, algo tão necessário para os dias de hoje.

Ao passarmos de uma educação transmissiva (em que o professor transmite o conhecimento) para uma educação participativa, onde a criança realmente experimenta, sente e executa, o foco muda para prover oportunidades em que a criança tenha uma educação plena e com real sentido. Uma base sólida para sobre ela construir tudo que ela quiser.

Marianna Canova é mestre em Educação e diretora do Peixinho Dourado Berçário e Educação Infantil em Curitiba (PR).

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Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]