O Poder Judiciário é o mais conservador e ultrapassado entre os Poderes da República. Nós juízes gostamos de sermos chamados de Excelência, ainda que não apresentemos resultados excelentes. A razão de ser deste simbolismo que marca uma estrutura com a cara do século 19 – ainda que mergulhada nos desafios do século 21 (vide regulação das redes sociais) – ampara se em uma clara distinção entre o cargo e a figura pessoal do juiz.
Juízes e Procuradores já se aventuraram (sem sucesso) pelo mundo da política. Alguns deslumbrados pelas mídias sociais trataram de monetizar a profissão de uma maneira pouco nobre, publicando vídeos de grandes efeitos, mas pouca utilidade.
A experiência já demonstrou os males da politização do Judiciário. Cabe agora à sociedade exigir mudanças
Permitir que juízes e promotores monetizem sua atividade através de caras palestras, vídeos ou cursinhos preparatórios para concursos, retira lhes a mais importante característica, a impessoalidade na jurisdição. O dever de impessoalidade (junto com o dever de transparência) está previsto no art 37 da Constituição, mas parece ter produzido poucos efeitos práticos.
Com este sentido, a lei deveria promover três grandes metas a serem atingidas pelos juízes: 1) remuneração de palestras não superior ao valor de 50% de seu vencimento, inclusive no STF; 2) quarentena de 3 anos para concorrer em eleições; 3) exoneração, sem vencimentos, para magistrados corruptos.
Estas medidas trariam dois grandes benefícios de curto prazo, quais sejam a diminuição do risco de captura da vontade dos juízes por partidos políticos ou grupos econômicos, bem como a recuperação da imagem do Judiciário (especialmente o federal).
A politização dos juízes hoje representa o grande mal a ser enfrentado. Um debate importante e já adiado por diversas vezes.
A Constituição de 1988 concebeu as associações de juízes como uma verdadeira válvula de escape para a politização judicial. O tempo demonstrou a notória ineficiência deste instrumento. As associações de juízes se transformaram em meros sindicatos com pautas estritamente corporativas e sem qualquer relevância concreta na vida política do país.
A experiência já demonstrou os males da politização do Judiciário. Cabe agora à sociedade exigir mudanças.
Eduardo Appio é juiz federal em Curitiba (PR).
O minério brasileiro que atraiu investimentos dos chineses e de Elon Musk
Desmonte da Lava Jato no STF favorece anulação de denúncia contra Bolsonaro
Fugiu da aula? Ao contrário do que disse Moraes, Brasil não foi colônia até 1822
Moraes vota pela condenação de deputados do PL denunciados em caso de emendas