Na reta final das eleições de 2018, é preocupante constatar que o tratamento que será dado a partir do próximo ano ao desejo da sociedade de ter um transporte público de qualidade ainda é uma incógnita. Pouco discutido, o tema segue pendente de um compromisso público claro por parte de candidatos e eleitos de oferecer um serviço melhor aos 50 milhões de pessoas que o utilizam diariamente, assegurando ao conjunto da população o direito constitucional de ir e vir.
O setor de transporte público por ônibus urbano foi um dos primeiros a levar as proposições da área ao conhecimento dos presidenciáveis, antes mesmo do início da campanha eleitoral. Mesmo assim, as poucas candidaturas que mencionaram a questão em seus posicionamentos e programas de governo se limitaram a apresentar ideias vagas, sem propostas e metas concretas de ação.
É relevante lembrar que o eleitor está preocupado com o assunto, conforme pesquisa de opinião feita pelo Ideia Big Data para o Instituto Escolhas e Instituto Clima e Sociedade, com 3 mil pessoas de todas as regiões do país. O levantamento revela que, quando o assunto em discussão é a mobilidade urbana, 98% dos entrevistados apoiam medidas para melhorar a qualidade e a infraestrutura do transporte público; 90% consideram mais importante dar prioridade a esse tipo de transporte, em vez dos automóveis; e mais de 80% esperam que seus candidatos proponham melhorias para o serviço público, envolvendo ônibus, ciclovias, trens e metrôs.
As poucas candidaturas que mencionaram a questão em seus posicionamentos e programas de governo se limitaram a apresentar ideias vagas
Em sintonia com esse anseio da sociedade, a Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos (NTU) propõe um conjunto de medidas capazes de garantir um transporte público de qualidade, com transparência e preços acessíveis para os passageiros. O documento, intitulado “Construindo hoje o novo amanhã”, reúne as contribuições de empresas, entidades e especialistas para fortalecer o transporte público e a mobilidade urbana sustentável no Brasil.
O objetivo pode ser alcançado com apenas seis programas que incluem, entre outras medidas, a priorização para o transporte coletivo urbano nas vias; a adoção de metas de qualidade; transparência no acesso às informações; e a criação de um fundo alimentado por fontes além da tarifa para custear 50% do valor das passagens. Além das melhorias para as redes públicas de transporte coletivo de caráter urbano, a implantação dos seis programas em escala nacional resultará também num amplo conjunto de benefícios à sociedade, entre eles: a redução da inflação dos preços administrados, resultante da redução do custo do transporte público; a criação de empregos e, consequentemente, mais arrecadação; e ganhos de produtividade, decorrentes da redução do tempo desperdiçado em engarrafamentos.
Leia também: O declínio do transporte coletivo (editorial de 23 de outubro de 2017)
Estamos convictos de que investir no transporte coletivo urbano é também um caminho eficiente e sustentável para ajudar o Brasil a superar a crise econômica. Com base na experiência de outros países, estima-se que, para cada bilhão de dólares investidos no setor (cerca de R$ 4 bilhões), uma quantia equivalente a US$ 1,8 bilhão (R$ 7,2 bilhões) será agregada ao PIB nacional, com criação de cerca de 36 mil empregos diretos.
Para avançar de modo propositivo, estamos trabalhando no aperfeiçoamento do documento juntamente com gestores públicos, entidades da sociedade civil e acadêmicos. O objetivo é transformar as propostas empresariais em propostas setoriais, de modo a ampliar seu alcance e impactos positivos. As proposições, resultantes de extenso e profundo trabalho de pesquisa e autoavaliação do setor de transporte coletivo, em consenso com as principais entidades envolvidas com transporte público no Brasil, indicam caminhos e soluções para desatar os nós desse serviço e torná-lo eficiente, sustentável e acessível. Alguém se interessa?
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