Temos vários gargalos na infraestru­­­tura que são mais relevantes para auxiliar o crescimento do país do que a construção de um trem-bala

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Os números e a atual conjuntura mostram que estamos em uma nova etapa do processo de desenvolvimento econômico. Essa aceleração do crescimento na última década, juntamente com uma melhora na distribuição de renda, aumentou a expectativa dos brasileiros em relação ao futuro.

Recentemente, em uma viagem à cidade de São Paulo, pude notar uma grande quantidade de obras e viadutos sendo construídos na capital paulista. Novos símbolos dessa nova etapa de crescimento e desenvolvimento da economia brasileira vão surgindo, como a ponte estaiada (Ponte Octávio Frias de Oliveira). Outras obras merecem destaque, como o Rodoanel e a ampliação do metrô. O mesmo ocorre em Curitiba – Linha Verde, por exemplo – e outras regiões e cidades do país.

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Um símbolo maior do país do futuro surgiria com a construção do trem-bala, pois ele existe basicamente nos países desenvolvidos. É um meio de transporte confortável, seguro, pouco poluente e eficiente, e em uma região que demanda boa infraestrutura de transporte de passageiros (Campinas - São Paulo - Rio de Janeiro).

No entanto, como é um projeto de custo muito elevado, é preciso que se considere não somente seus custos e benefícios, mas o que poderia ser feito com esses recursos, ou seja, qual o seu custo de oportunidade.

Emprestando alguns dados e argumentos do blog do economista do Ipea, Mansueto Almeida, o custo estimado desse projeto é de R$ 33 bilhões, isso sem considerar a reserva de contingência para arcar com eventuais custos não programados do projeto e os subsídios de até R$ 5 bilhões para as concessionárias. Outro ponto relevante é que boa parte do financiamento da obra virá do BNDES, com custos consideráveis sobre o Tesouro Nacional, pois este empresta a uma taxa maior (Selic) do que recebe do BNDES. Em alguns países, como no caso da Itália, os projetos iniciaram com uma parceria público-privada, mas seus custos foram absorvidos integralmente pelo setor público por serem muito mais elevados do que os previstos originalmente.

Essa obra provavelmente ficará mais cara do que o previsto, vide nosso histórico de grandes obras públicas. Quanto maior o custo, mais elevada será a participação pública, com efeitos relevantes sobre seu orçamento.

Some-se a isso o fato de que somos um país em desenvolvimento, com renda relativamente baixa e grande concentração da renda. Ainda somos a sétima economia mais desigual do mundo. Portanto, há um grande contingente de trabalhadores com baixos salários e demandas reprimidas por educação e saúde devido à baixa qualidade desses serviços oferecidos pelo governo. Além disso, temos vários gargalos na infraestrutura que são mais relevantes para auxiliar o crescimento do país do que a construção de um trem-bala em uma região com razoável infraestrutura de transporte terrestre e aéreo.

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Esses recursos trariam mais benefícios se fossem utilizados para a ampliação da capacidade dos aeroportos de Campinas, São Paulo e Rio de Janeiro, além de sobrar muito para ampliação dos principais aeroportos de todo o país e, talvez, para a ligação de alguns aeroportos com linhas de metrô, por exemplo. Poderia ser melhor aproveitado também se fosse investido na educação básica ou saúde pública. É difícil pensar que vale mais a pena investir em um símbolo do futuro que não vai resolver muita coisa na prática do que na melhora de um sistema de saúde que deixa centenas de milhares de pessoas em filas intermináveis para realizar um exame urgente, que deveria ter sido feito no ano anterior. Ou em um sistema educacional que mal consegue alfabetizar suas crianças, adolescentes e jovens, perpetuando os ciclos de pobreza e desigualdade existentes nesse país.

Agora não seria o momento para realização de tal investimento. Ainda somos um país com muitas necessidades básicas e recursos muito limitados.

Luciano Nakabashi, doutor em Economia, é professor do Departamento de Economia da UFPR e pesquisador do CNPQ. E-mail: luciano.nakabashi@gmail.com