Esgotada a badalação do programa comemorativo do 26.° aniversário do PT com o jantar para a arrecadação de fundos para cobrir os rombos na caixa petista deixados pela antiga direção, caída em desgraça com o escândalo em dose dupla do mensalão e do caixa 2 e superado os constrangimentos com ausências de excluídos ilustres, como o ex-dono da legenda e do governo, o companheiro José Dirceu e o sumido ex-presidente José Genoíno, que desapareceu sem deixar endereço sobra na coluna dos saldos a iluminada reação do presidente-candidato Lula da Silva, no salto do esfuziante e justo otimismo para o pouso na prudência do bom senso.
Ressalve-se que é perfeitamente justa e compreensível a euforia do candidato com os índices de recuperação da última e polêmica pesquisa, que o alçou ao favoritismo com dez pontos porcentuais de vantagem sobre o prefeito tucano de São Paulo e seu principal adversário potencial, José Serra na simulação do mano a mano do segundo turno. E um punhado de números que dançam o arrasta-pé do alívio lulista e esquentam a cuca da oposição, embaraçada na escolha do candidato entre o prefeito José Serra e o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin.
Não se sabe quanto tempo vai durar a conversão do candidato ao recato do comedimento. Mas a trava no oba-oba forçado do fandango petista, mais para réquiem do que para marchinha de véspera do carnaval, é um dado novo a ser avaliado nos próximos lances da pré-campanha. Lula advertiu para o risco do salto alto e do esbanjamento na euforia pelos companheiros excitados com a perspectiva de vitória antes do início oficial de campanha e da prova de fogo do horário de propaganda eleitoral em rede de emissoras de rádio e de tevê.
E foi além ao anunciar a linha de moderação, embrulhada em esperteza dos próximos meses, até junho, em que a frouxidão da lei tolera que o ocupante de cargo executivo, candidato notório mas não declarado à reeleição, desfrute o privilégio do uso da máquina administrativa na campanha maquiada da inauguração de obras, dos discursos nos palanques para a assistência mobilizada pelos dirigentes locais, com jeito e oratório de comício. O candidato pretende resguardar-se das críticas e provocações da oposição enrolada nas mesmas contradições, quando na campanha do padroeiro da reeleição, o então presidente Fernando Henrique Cardoso, na campanha de 1998, usou e abusou das facilidades do cargo evitando falar em candidatura. Em iluminado instante de bom senso, abriu a reunião de ministros do primeiro escalão com a advertência: "Não leio nem comento pesquisa. Vamos trabalhar."
Duas novidades no embalo inspirado. Mas, é claro, sem abrir mão do privilégio da simulação, para acelerar viagens por todo o país, inaugurar as obras dos três do quatro anos do seu governo de modesto desempenho e aproveitar todas as oportunidades para desafiar o rosário das comparações das estatísticas do seu governo o do seu antecessor e odiado desafeto. Boas intenções raramente resistem às provocações dos adversários. E a oposição, acuada com a virada de Lula, engrossa o tom das críticas pessoais, batendo rijo. A defesa do candidato entregue ao PT não merece confiança. O partido recebeu o certificado do tamanho do seu desgaste no índice nanico de 2,1% de eleitores que declararam que votarão em Lula porque é o candidato da legenda.
Antes de estrear os retoques no estilo da campanha mascarada, o presidente-candidato necessita fazer as pazes com a coerência para evitar a reincidência dos tropeços na contradição. Para ficar no exemplo mais nítido: no atordoamento do pipoco do escândalo da corrupção, com as CPIs dos Bingos e dos Correios despejando as denúncias das proezas do companheiro tesoureiro do PT, Delúbio Soares e do parceiro Marco Valério na arrecadação de recursos milionários desviados de empresas estatais, contas do exterior e outras tramóias, a indignada reação do presidente seguiu à risca o modelo correto, reclamando a apuração rigorosa das trapaças e a punição dos culpados. Rolaram cabeças ilustres. Com a demora nas investigações, a raiva foi baixando de tom, com os toques de tolerância.
Apertado pelas perguntas dos repórteres em programa de televisão, o presidente voltou à ênfase para afirmar que se ele tivesse sabido das lambanças dos que o traíram, certamente que o escândalo não teria acontecido, mas sufocado no nascedouro.
No forrobodó natalício do partido da desbotada bandeira vermelha, Lula escorregou no sabão da recaída. Em vez da punição dos culpados pela roubalheira pregou o aprendizado da humildade, com o reconhecimento dos erros cometidos e, "num ato de grandeza", o pedido de desculpas. A dose de tolerância recomendou o conselho da sabedoria popular: errar é humano, só tropeça se der um passo.
O adendo enigmático ao provérbio venerando liga o sinal de alerta e cutuca a desconfiança: ninguém segura língua de candidato.
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