| Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil

Uma vez anunciado o resultado da eleição presidencial norte-americana, algumas pessoas traçaram comparações entre Donald Trump e Jair Bolsonaro. Os paralelos afirmavam semelhanças nos perfis ideológicos por serem ambos “de direita”, no fato de estarem fora do mainstream político e de atraírem reações polarizadas na opinião pública em razão de suas declarações polêmicas que chocam o chamado “politicamente correto”.

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Com base nesses paralelos e analogias, houve os que afirmaram que, assim como a vitória de Trump foi uma surpresa, Bolsonaro repetiria o mesmo feito no Brasil. Entretanto, os critérios utilizados nesses paralelos estão baseados em fatores que não são muito determinantes na vitória em eleições presidenciais. Bolsonaro tem maiores desvantagens que Donald Trump, o que torna improvável que o político brasileiro repita o resultado surpreendente obtido pelo americano.

O primeiro elemento que define as chances de um candidato é o financiamento

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O primeiro elemento que define as chances de um candidato é o financiamento. Uma eleição presidencial é um empreendimento caro. No caso de Trump, o volume de recursos é estimado em US$ 795 milhões, enquanto que, em 2014, a reeleição de Dilma Rousseff custou em torno de R$ 350 milhões. Trump é um bilionário com recursos próprios e com uma rede de contatos com ricos doadores; por outro lado, Bolsonaro é um militar com poucos recursos pessoais e, possivelmente, com uma rede de contatos menor que a de Trump.

Outro elemento é a diferença da estrutura partidária de apoio. Nos Estados Unidos, Trump contou, mesmo que parcialmente, com a nada desprezível estrutura do Partido Republicano. Ser um candidato de um partido grande importa porque é maior o leque de apoios de lideranças e a militância política regional – algo necessário numa eleição nacional. Bolsonaro, por outro lado, não tem uma máquina partidária grande ao seu lado e nem tende a ser um candidato com quem outros partidos se coligariam. Portanto, os meios e recursos de campanha fornecidos pelas estruturas partidárias entre os dois candidatos são muito diferentes.

Além disso, as eleições norte-americanas são disputadas virtualmente entre dois partidos, o Democrata e o Republicano. Uma eleição bipartidária pode favorecer um candidato fora do mainstream político, pois ele será atacado por somente uma força política. No caso do sistema multipartidário brasileiro, se durante a campanha Bolsonaro se tornar um candidato com chances de ocupar uma das duas vagas do segundo turno, ele terá de enfrentar acusações e ataques vindos de diferentes lados, fazendo com que uma defesa eficaz se torne mais difícil. Atacar e se defender em relação a um candidato é mais fácil que atacar e se defender de diversos oponentes.

O último elemento é o jogo midiático de imagem e notícias. Antes de concorrer à presidência, Donald Trump tinha bastante experiência nesse quesito ao ser uma celebridade televisiva. Ele sabia por experiência como funciona esse jogo e de que forma deve jogá-lo, para que mesmo a má publicidade não gere impacto negativo na sua popularidade. Bolsonaro não tem a mesma experiência e isso pode ser um fator importante, pois tanto ele como Trump são alvos de notícias e difusão de imagens negativas nos meios de comunicação e informação. Trump ainda contava com o apoio de sites de notícias relativamente grandes e com forte atuação nas redes sociais, como o Breitbart e o Infowars. E Bolsonaro, apesar de contar com uma militância articulada informalmente em blogs e redes sociais, não conta com o apoio de organizações similares em tamanho e profissionalismo. Bolsonaro, então, teria menos recursos e mais obstáculos para resistir ao jogo midiático.

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Portanto, se Bolsonaro vencer as eleições, não seria um feito análogo ao de Trump – seria muito mais surpreendente.

Lucas Rodrigues Azambuja é sociólogo e professor no Ibmec/MG.